RESPM JUL_AGO_SET 2017

ponto de vista Revista da ESPM | julho/agosto/setembrode 2017 114 OBrasilnomundo pós-globalização A pós um longo período de integração econô- mica e fortalecimento das instituiçõesmul- tilaterais, omundoenfrentahojeumcenário de incerteza e questionamento da globaliza- ção, sobretudo noOcidente. São várias as razões para esse refluxo. A emergência da China como potência econômica passou a ameaçar a hegemonia industrial doOcidente. Aproliferaçãode acor- dos bilaterais e regionais de comércio minou o esforço de integração multilateral. O envelhecimento da popu- lação agravou problemas fiscais e de escassez de força de trabalho. Os ganhos de bem-estar da classe média ocidental foram limitados tanto pela concorrência asi- ática quanto pela regulação imposta para enfrentar as mudanças climáticas. E a revolução tecnológica também ameaça os empregos menos qualificados, fazendo cres- cer as desigualdades. As consequências desse movimento já são visíveis. O unilateralismo ganhou força e legitimidade em2016 com asvitóriasdeDonaldTrumpnosEstadosUnidosedoBrexit — a saída do ReinoUnido da União Europeia. As retiradas dosamericanosdasnegociaçõesdaParceriaTranspacífico edoAcordodoClimadeParis constituemos eventosmais significativos dessa nova era pós-globalização, marcada pelo recrudescimento do protecionismo e da incerteza político-estratégica no quadro internacional. Em meio a esse cenário desafiador, o Brasil segue modesto emsua estratégia de inserção econômica inter- nacional. A iniciativa comercial mais expressiva do país, oMercadoComumdoSul (Mercosul), respondepormenos de 10%de suas exportações. OBrasil tambémficou àmar- gemda ampla proliferação de acordos de livre comércio nasúltimasdécadas, emconsequênciadaexcessivaaposta nomultilateralismo. Demais de 220 acordos notificados na Organização Mundial do Comércio, o país responde por apenas três, todos comeconomias de pequeno porte. Como resultado, temos o nono PIBmundial, mas somos apenas o 25º maior exportador. Como reverter esse quadroque penaliza e compromete um futuro mais promissor para o país? Três iniciativas são fundamentais. Emprimeiro lugar, é preciso inaugurar umanova estra- tégia econômica, com foco, no plano interno, na redução do custo Brasil e no aumento da eficiência produtiva; e, no plano externo, na celebração de acordos de comércio e investimento que promovam a inserção do Brasil nas cadeias globais de valor. Emsegundolugar,necessitamosdeumenfoquemaisprag- máticoàs relaçõesexteriores, definindoumaclaraestraté- giaparaosBricseparanossoprincipal parceiroeconômico —aChina. Focadanãoapenas emconsolidarnossaposição nessemercado,mas, sobretudo, emalavancar investimen- toschinesesnoBrasil,contemplandonossasprioridadesde infraestrutura e desenvolvimento tecnológico. Em terceiro lugar, devemos aproveitar as oportunida- des geradas pela candidatura dopaís àOCDE. Pormeiodo compromissocomaadoçãodepolíticaspúblicas racionais e transparentes, a abertura econômica e a justiça social, ampliaremos a credibilidade e o suporte internacionais à nossa estratégia de desenvolvimento. São muitos os desafios a serem enfrentados, no plano externoeno interno, para a retomadadocrescimento sus- tentado e inclusivo noBrasil. Opaís já iniciou o longo per- curso de reforma doEstado e das instituições. Cabe agora implementarumanovaestratégiadeinserçãointernacional que potencialize os efeitos positivos dessamodernização. Sergio Florencio Diretor de estudos internacionais do Ipea Edison Silva Filho Diretor-adjunto de estudos internacionais do Ipea ascom ipea / david magalhães ascom ipea / david magalhães Edison Silva Filho Sergio Florencio

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