RESPM-20 anos

entrevista | José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (BONI) Revista da ESPM | julho/agostode 2014 190 e outras emissoras que antes eram abertas. O custo para assinar 200 canais pode chegar a US$ 79,99, sem incluir os pacotes disponíveis em pay-per-view ou em v.o.d ( video on demand ), que somam mais de 1,8 mil eventos ou filmes diaria- mente. Tudo pago. Essa “guerra” en- tre canais abertos e fechados mais internet e telefonia já se foi. Não tem mais sentido. As grandes pro- dutoras estão criando e produzindo conteúdos para multiplataformas. O último capítulo está sendo escri- to pela ABC TV, que, em um projeto com a Nielsen, disponibilizou 100% da sua programação, ao vivo, em to- das as plataformas para uma ampla e definitiva avaliação. Gracioso — Naturalmente, quando falamos de públicos e de segmentos específicos, sabemos que a TV está perdendo força em alguns deles, principalmente entre os jovens. Será possível reverter esta tendência? Boni — Se a televisão corre atrás des- sa parcela de público fazendo progra- mas específicos para eles, está perdi- da. Lá fora, trouxeramessa tribo para participar de programas sem perder os espectadores habituais, sejam internautas, votadores, opinadores, criadores etc. Não criaram atrações para os jovens. Eles foram atraídos para participar, criar, criticar e me- lhorar a televisão. Querer falar com eles do jeito deles é cair no ridículo. É como adultos que tentam falar com crianças imitando crianças. Gracioso — Outro fator que pode mi- nar a sólida posição da TV brasileira é a chamada confluência de mídias. Por exemplo, em artigo publicado nesta edição, Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, informa que 16% dos espec- tadores de TV estão simultaneamente ligados na internet. Até hoje, a con- fluência de que tanto se fala ainda é um sonho, mas, quando ela acontecer, parece que não será com base na TV. O que pensa disso? Boni — Eu li o Carlos Augusto Mon- tenegro de forma diferente. Acredito que um usuário de televisão possa usar o seu computador para ver um filme, um capítulo de série perdida ou até um pacote inteiro de séries ame- ricanas. Mas não acredito que esse usuário vá usar um 55 polegadas HD para navegar na internet. Acho que pode haver um uso simultâneo, isso sim. Mas, nesse caso, quase sempre o ator principal é a televisão, quer esteja o usuário interagindo comumprogra- ma ou na rede social, participando, opinando ou trocando ideias com o universo de internautas que acom- panha e rastreia o evento televisivo. Lamento que a televisão não converse mais com esse público, elemento fan- tástico de pesquisa e matéria de alta qualidade para criação. Gracioso — Entre os grandes focos da TV, estão naturalmente o jornalis- mo, as novelas e os esportes. É nessas áreas que a concorrência entre os canais está cada vez mais acirrada. Como vê esta briga? Quais os canais que, em sua opinião, estão inovando e apresentando soluções novas? Boni — Conta uma velha piada que o Dr. Roberto Marinho, quando a Rede Globo se preparava para en- trar no ar, tropeçou numa lâmpada mágica da qual saiu um gênio que se prontificou a realizar três dese- jos. Modestamente, ele quis apenas um: “escolher meus concorrentes”. E foi atendido. Gracioso — Não é segredo que o atual governo não desistiu de im- por o controle social da mídia, co- piando o modelo argentino. Como vê essa ameaça, seja em relação aos demais veículos de comunica- ção, seja em relação à televisão em particular? Boni — Apesar de manifestações e declarações explícitas de alguns membros do PT, não vejo o menor clima no Brasil para a criação de uma censu ra , mesmo que seja disfa rçada de regu lamentação. Acredito que todos os veículos de comunicação devem se organizar contra isso. Se começar com a te- levisão, sob qualquer argumento, atingirá em ritmo de dominó em todos os outros veículos e acabará fechando o país. Uma coisa dessas não passaria pela cabeça do Lula, com certeza. Seria o ponto final da nova democracia brasileira. Não somos a Argentina. Essa “guerra” entre canais abertos e fechados mais internet e telefonia já se foi. Não temmais sentido. As grandes produtoras estão criando e produzindo conteúdos paramultiplataforma

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