RESPM-20 anos
julho/agostode2014| RevistadaESPM 199 Opassadodos jornais eo futuro dasmídias A indústriada comunicação temsofrido comos efeitos dadisrupçãoda internet, que obrigouas empresas jornalísticas a repensar seusmodelos denegócios emtodoomundo. NoBrasil, temos doismovimentos contraditórios: oaumentodas publicações populares e aquedana circulação dos grandes jornais. Entendaoque aconteceue oque estápor vir no cenáriodamídia impressa Por Judith Brito e Ricardo Pedreira T ardiamente — depois de um encantamento inicial comas perspectivas denovas receitas que se somariam às auferidas com a versão tradicional, empapel —, os jornais (nomundo todo) perceberam que tais ganhos, se viessem, seriam predominantemente concentrados pelos detentores das plataformas tecnológicas globais. Aos produtores originais de conteúdo jornalístico relevante — no caso dos jornais, metade de toda a produção, depois replicada por outros distribuidores — restariammigalhas do fatu- ramento publicitário digital. Se havia alguma chance de reagir aomovimento disruptivo, as ações teriamde ser tomadasnonascedouro, comregras claras enegociações fortes comas grandes empresas globais de internet para o reconhecimento do valor da produção dos conteúdos. O Google avançou celeremente emmeio à nebulosa da disrupção digital, enquanto amídia tradicional ten- tava entender o que ocorria. No caso doGoogle, trata-se de ummodelo emque o internauta busca a informação, de forma ativa, por meio de palavras-chave. Na busca da preservação do direito dos produtores de conteúdo frente ao uso não autorizado e não remunerado desses conteúdos, aconteceramalgumas iniciativas. No Brasil, coube à Associação Nacional de Jornais a mobilização dos principais títulos brasileiros contra o uso de seus conteúdos pelo Google News. Osmodelosmais recentes, os das redes sociais, Face- book em particular, facilitaram ainda mais a vida do internauta, apresentando a ele a informação (dentro de seus assuntos de interesse), sem a necessidade de solicitação. Não à toa, pioneiros como o New York Times agora sofrem queda de audiência em suas homepages. O ótimo estudo Post Industrial Journalism — pro- duzido pelo Town Center for Digital Journalism, da Columbia Journalism School, com tradução publicada na edição de abril/maio/junho de 2013 da Revista de Jornalismo ESPM — matou a charada. De acordo com o estudo, a disrupção vem principalmente da quebra do modelo vertical praticado originalmente. Antes, o produtor de conteúdo detinha os meios de distri- buição e ele próprio levava tal conteúdo à audiência. No novo cenário, a distribuição cabe às empresas de telefonia, às grandes plataformas e aos produtores de devices . Além disso, o público deixou de ser um pas- sivo receptor para assumir também os papéis de pro- dutor, editor e replicador de conteúdos. No Brasil, toda essa revolução ocorreu nas últimas duas décadas. Emmeados dos anos 1990, foram inicia- das no país as primeiras experiências de internet, com os provedores de conexão à banda estreita (discada), que, mais tarde, se converteramemportais de conteúdo e serviços. Na época, essas inovações eram vistas com incredulidade e alguma ironia em todo o mundo. Nin- guém imaginava o quanto essas iniciativasmudariamo cenário damídia noBrasil, como já começavamamudar a realidade nos Estados Unidos. O final da década de 1990 e o início dos anos 2000 foram marcados por expectativas eufóricas: com a abertura de capital das startups de internet na bolsa americana de tecnologia Nasdaq a valores inimaginá- veis — considerando que essas operações eram defici- tárias e apenas prometiam receitas de publicidade. Em
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