RESPM-20 anos

entrevista | Maílson da Nóbrega Revista da ESPM | julho/agostode 2014 22 pagamentos — reduzem a populari- dade do governo. Os mercados pre- cificam a correspondente elevação dos riscos. A confiança dos consu- midores e dos investidores declina. O ambiente piora. Tudo isso obriga o governo a agir, revertendo rumos, pois mantê-los equivale ao suicídio político, que se traduz por derrota nas eleições. Em certo sentido, é isso que se observa no momento. A economia vai mal, o crescimento é baixo e a inflação é elevada. É pre- ciso reverter as políticas adotadas no governo Dilma, em grande parte responsáveis por esse fracasso. Se reeleita, a presidente terá de rever a maneira e as políticas que adotou em seu mandato. Isso acontecerá tam- bém, provavelmente em maior grau, se a oposição vencer as eleições. Sem isso, teremos uma piora da situação, ou seja, a permanência da estag- nação com inflação. Felizmente, é possível reverter essa trajetória, o que permitiria assegurar os avanços sociais e até mesmo ampliá-los. Gracioso — Uma das razões da inter- rupção dos investimentos pelas empre- sas é o fato de os empresários estarem em um compasso de espera, aguardan- do os resultados da próxima eleição. O senhor acredita que essa eleição poderá vir a ser o marco divisório que eles espe- ram? Por outro lado, podem-se esperar mudanças substanciais, de caráter liberalizante, se o PT vencer a eleição? Maílson — Na verdade, a queda do ritmo dos investimentos é anterior ao processo eleitoral e tem a ver com as incertezas decorrentes de uma política econômica equivocada e do excesso de intervencionismo na economia. A expectativa dos em- presários parece ser a de restabele- cimento da previsibilidade e de me- lhoria do ambiente de negócios, que lhes permita avaliar riscos e tomar decisões de investir. As eleições são percebidas como o elemento que sinalizará as mudanças necessá- rias. Se o PT vencer, deveremos ter mais do mesmo que caracterizou a administração Dilma, mas pode- mos assistir à adoção de medidas de compressão de preços como os dos combustíveis e da energia elétrica. Uma trajetória de caráter liberali- zante ocorreria, a meu ver, se a opo- sição vencesse. Gracioso — Finalmente, quais seriam as medidas pontuais mais urgentes que um novo governo — seja ele qual for — deveria adotar para a retomada do crescimento? Maílson — É difícil dizer, pois é ampla a necessidade de ajustes e de retomada das reformas. Creio que o reajuste dos preços controlados, como assinalei, deve estar na linha de frente das prioridades. Simulta- neamente, será preciso adotar me- didas para restaurar a credibilidade da gestão fiscal, seriamente abalada pela contabilidade criativa e pelos malabarismos financeiros. Isso será fundamental para recuperar a confiança no futuro da economia. Uma reafirmação da política de concessão dos serviços públicos de transporte também seria parte das medidas iniciais. A retomada do crescimento não acontecerá sem ações capazes de elevar a taxa de in- vestimento e de ampliar os ganhos de produtividade. Todas elas são de realização complexa e de resulta- dos que só aparecem muito tempo depois. Mas é possível que o novo governo, particularmente se a opo- sição vencer, emita sinais de como pretende lidar com esses desafios. OBrasil construiu umconjunto de instituições – como a democracia, Judiciário independente e imprensa livre – que limitama continuidade de políticas populistas e da incompetência

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