RESPM-20 anos

julho/agostode2014| RevistadaESPM 31 mobilizadora de processos educativos, como fizeram as igrejas luteranas no Ocidente e o confucionismo no Oriente, não foi construído no Brasil um processo de formação ética consistente. As populações indígenas, ainda que muito mais estruturadas do ponto de vistamoral, formavamsocie- dades altamente homogêneas, porém pequenas e frá- geis. Mantinham atitudes de dignidade, que sempre impressionaram fortemente os cronistas do encontro das duas civilizações. Mas eramsociedades totalmente desinformadas dos processos civilizatórios em curso no mundo, sem nenhuma condição de resistir a uma sociedade europeia determinada a tomar seu território e escravizar sua força de trabalho. Foramescravizados em sua própria terra pela pólvora, que dava total supe- rioridade militar aos invasores, e não tiveram muita possibilidade de influenciar mais decisivamente a for- mação cultural do país. Os africanos, por sua vez, vieram depois de terem sido vencidos em guerras intestinas por tribos vizi- nhas e por elasmesmas vendidos aos portugueses, num comércio cruel, impiedoso. Eram metidos em porões fétidos, e chegar vivo já era um logro formidável. Sub- metidos a controle baseado na tortura física e moral, chegaram a um país estranho, sofrendo as mais terrí- veis formas de privação, de opressão e de exploração. Lutarampara conservar suas tradições, sofrendo, pro- vavelmente com indizível sentimento de crueldade, a opressão de um regime de vida brutalizado. Aqui e acolá produziram suas revoltas, quase sempre venci- das com enorme violência. Se não eram derrotados, conseguiam manter-se isolados da “civilização”, em remotos quilombos. Sua revolta foi amordaçada, sua memória foi lategada em pelourinhos, fazendo parte dos mais profundos rancores históricos de uma parte imensa do povo brasileiro. Sobre eles se abateram as piores, as mais abjetas manifestações de severidade das nossas primeiras elites. Mais tarde, de forma crescente a partir do século 19 até o 20, os imigrantes renovaram a sociedade brasi- leira. Trouxeramdinamismo empreendedor, vitalidade econômica, arejamento cultural, mas estavamconcen- trados em sobreviver em terra estranha, dominada por um povo consolidado no comando do país, cuja língua compreendiam mal e a elite era desabusada na sua latinstock