RESPM-20 anos

julho/agostode2014| RevistadaESPM 33 desde a redemocratização, tem perseguido, ainda que de forma fragmentada e pouco consistente, a exigên- cia de maior seriedade, de atitudes mais rigorosas do ponto de vista ético, acompanhada de maior severi- dade em todos os campos da vida social, empresarial e institucional. Essa exigência foi tomando forma num clamor político difuso, que se expressava vagamente nas denúncias cotidianas da corrupção e na acusação do descaso das elites dirigentes do país. Vejamos alguns exemplos de setores da vida social em que esse esforço tem se manifestadomais fortemente. O ambiente em que o movimento por maior serie- dade se fez mais evidente tem sido na política. Uma ideologia de valores republicanos marcou o processo de redemocratização e se consolidou como ideal do regime democrático. Ainda que evitando a histeria do discurso da corrupção que levara ao golpe militar de 1964 (ao lado do anticomunismo), todos os partidos na oposição, dos tradicionais, como o PMDB e seu suce- dâneo, o PSDB, aqueles mais à esquerda, como o PT e o PDT, recorreram à crítica ao descompromisso ético e à falta de seriedade republicana dos agentes políti- cos tradicionais. Essa crítica aos vícios no trato com a coisa pública nunca foi abandonada, jamais se esgo- tou, nemmesmo quando o PT, que tinhamais enfatica- mente feito esse discurso, viu o tema mudar de mãos e por ele ser acossado em seu período de poder. A ques- tão continua emuito provavelmente continuará sendo uma exigência social, vocalizada cotidianamente pela imprensa, pelos agentes políticos e pelas organizações autônomas da sociedade civil. Outro campo, menos notado, mas de enorme reper- cussão, em que uma crescente exigência de seriedade — e, emcaso de não observância, na aplicação da severi- dade da lei — temsido imposta, é o da regulamentação da vida econômica. De uma economiamal regulada, onde as classes patronais podiam fazer o que bementendes- sem, o país passou empoucas décadas a uma economia com instâncias altamentemobilizadas, primeiro para a regulamentação, depois para o exercício da regulação: instâncias de defesa do consumidor, das leis trabalhis- tas, de respeito ao meio ambiente ou de imposição de rigorosas normas técnicas nos diversos ramos econômi- cos, além, claro, daquilo que desde os tempos da corte já preocupavamuito, o sistema de arrecadação tributária. Empoucas décadas o Brasil construiu umvasto apa- rato regulador, com manifesta capacidade de impor, de forma legal, suas normativas. Ainda que se possa objetar que isso são normas impositivas, aquilo que os americanos chamam de enforcement da lei, e, por- tanto, não atitudes interiorizadas, a dimensão ética é introduzida pelos processos namedida emque estrutu- ramo conceito das ações corretas e incorretas. A força difusora de atitudes prescritas pelas leis acaba por ser interiorizada tambémdo ponto de vista ético, na forma de atitudes valorizadas. Esse processo se expande aos poucos para a sociedade. Hoje, consumidores têm amplos e detalhados direitos, empresas têmminucio- sos e amplos deveres, seguemnormas ambientais, tra- balhistas e sanitárias rigorosas, que têm de ser obser- vadas em quase todos os campos da vida produtiva. Oabuso da velocidade e a direção temerária passarama ser criticados, ainda que esse processonão tenha provocado grande efeito. Hoje o desrespeito ao pedestre, ao ciclista e aomotociclista é umexemplo de conduta antissocial latinstock

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