RESPM-20 anos

Ética Revista da ESPM | julho/agostode 2014 38 incompatível com as expectativas de ressocialização do indivíduo penalizado e, pior, comefeitos perversos sobre o processo de reestruturação da psique do criminoso. As prisões brasileiras se tornaram verdadeiras fábri- cas de criminosos. Se a sociedade temo direito de viver semviolência, deverá reconhecer igualmente seu dever de oferecer à população carcerária uma vida minima- mente digna. A situação de anomia moral dos presídios tem de ser revertida. Isso provavelmente não custará pouco. O país terá de se dispor a investir muito mais no sistema prisional e de ressocialização. Umamaior severi- dade legal deverá ser acompanhada pormaior seriedade no sistema punitivo, ou a possibilidade de recuperação dos presos se tornará cada vez menos efetiva e remota. Aadmissãodanecessidadedemaiorseveridadeemrela- çãoàatitudecriminosa teráde ser acompanhadademaior humanidade no trato da questão carcerária. Se essemovi- mentonãoacontecerdeformaconjugada,oBrasilmaisuma vez terásucumbidoà insensibilidadeeàcrueldadecultural daselites, eestaráproduzindoumprocessodedeformação moral, talvez irreversível, numa população que não pode mais ser negligenciada dopontode vista quantitativo. Concluindo, se pusermos a cultura brasileira em perspectiva histórica, parece fora de dúvida que uma ideologia da seriedade social, do rigor republicano e de uma severidade substantiva tem sido buscada, ainda que de forma não muito consistente e sistemática. As escolas, como já vimos, tropeçam todos os dias no tema. A pedagogia brasileira está longe de ter conseguido dar ao problema um tratamento minimamente adequado. Novas gerações estão chegando à idade da vida social semuma noção clara de seus deveres públicos e até pri- vados. A vida pública clama por ética, mas dá exemplos contrários todos os dias. A repressão à violência existe, mas não recupera o indivíduo. Estamos claramente nos debatendo entre tendências conflitantes. A direção do que aspiramos parece, con- tudo, clara: queremos umpaísmais sério, mais compro- metido, mais consequente em suas atitudes. Renato Caporali Economista, mestre em filosofia e doutor em desenvolvimento sustentável. Atualmente contribui com a Unesco no Projeto Sesi de “Ética na educação para o mundo do trabalho” latinstock

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