Revista da ESPM

história Revista da ESPM | Janeiro/fevereirode 2015 122 A crise de duas décadas atrás coincidia como nasci- mento de uma democracia plena, depois de 21 anos de regime autoritário. Tratava-se do esgotamento de um modelo de desenvolvimento liderado pelo Estado e pro- tegidoda competição externa por toda sorte de barreiras à importação. Criado a partir dos anos 1930, comGetúlio Vargas, omodelo recebeu seu impulso capitalistamais decisivo coma ditaduramilitar implantada em1964. A economia cresceumuito, mas a concentração de renda, que já era ruim, piorou ainda mais, e a pobreza, se não aumentou, tornou-se mais visível — com o inchaço das principais cidades do país — e menos tolerável, à luz do enriquecimentodopaís. Jána segundametadedadécada de 1970 — depois do “milagre brasileiro”, entre 1968 e 1973, quando o crescimento do PIB foi de aproximada- mente 10% ao ano —, o modelo dava sinais de fadiga. A indústria, que havia se expandido incrivelmente desde os anos 1950, viciara-se em proteção estatal e perdia o passo, acelerado pela difusão da microeletrônica, do desenvolvimento tecnológico mundial. A sociedade urbano-industrial erguida a partir da década de 1930 e definitivamente “modernizada” nos anos do “milagre econômico”, com a emergência de um novo sindicalismo operário e de uma maior e mais diversificada classe média, já não mais cabia dentro da camisa de força do regime autoritário. Queria orga- nizar-se e expressar-se com liberdade. Reivindicava a descentralização e a democratização do poder. Os ven- tos do mundo, que deixava para trás a polarização ide- ológica da Guerra Fria e embarcava emuma nova onda democrática, comorigemno sul da Europa, favoreciam a saída do isolamento e do autoritarismo. Aomesmo tempoque se via cercadopor novos atores e crescentes demandas, oEstadoautoritárioperdia a capa- cidade de fomentar e sustentar o crescimento acelerado. Na segunda metade dos anos 1970, o general Ernesto Nãohá como incrementar aindamais o saláriomínimo e pagarmais benefícios se a economianão cresce o suficiente para absorver amão de obra e gerar a arrecadação de que o Estado precisa A desaceleração do crescimento, a maior restrição ao crédito e o aumento da inflação concorreram para frear o consumo das famílias shutterstock

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