Revista da ESPM

história Revista da ESPM | Janeiro/fevereirode 2015 124 as escolhas fundamentais que a sociedade brasileira fez 20 anos atrás. A sensação de mal-estar crescente nos últimos dois anos expressa a frustração de expectati- vas em relação às aspirações inscritas naquelas esco- lhas fundamentais. Mas não o seu rechaço. O Plano Real não consistiu apenas em um programa de reformamonetária. À troca damoeda seguiram-se o fimdemonopólios estatais, a privatização de empresas estatais de infraestrutura e a criação de agências regu- ladoras; a reestruturação do sistema financeiro privado e público, incluída a virtual extinção dos bancos esta- duais; a reorganização das finanças públicas, expressa na Lei de Responsabilidade Fiscal; a instituição de um regime demetas de inflação e o fortalecimentodoBanco Central (BC) como guardião da moeda; a implantação, na prática, do Sistema Único de Saúde etc. Como foi possível uma transformação tão ampla num intervalo relativamente curto de tempo, em um país com as características políticas do Brasil? A explicação está na profundidade da crise anterior. A saturação com as disfuncionalidades criadas pela hiperinflação chegou a tal ponto que, ao debelá-la, o Plano Real conferiu aos seus realizadores condições políticas para implementar uma agenda de reformas que, em condições normais, não teria sido possível concretizar. Era um quadro bem distinto do cená- rio atual. Embora não faltem desafios, inexiste uma disfuncionalidade-síntese, uma variável sistêmica que, uma vez atacada com sucesso, gere o apoio polí- tico suficiente para enfrentar em sequência rápida um amplo conjunto de reformas. Em períodos his- tóricos mais normais, que não marquem mudanças de época, se reduz — tanto para o bem quanto para o mal — o espaço político para grandes mudanças ins- titucionais, porque os interesses sociais organizados têmmaior capacidade de resposta e resistência a ini- ciativas governamentais. Ainda mais no Brasil, onde hoje quase tudo é matéria constitucional. Paramuitosmoradores das grandes cidades, o sonho da casa própria acabou virandoumpesadelo. Afinal, não basta termais renda, se a casanão temesgoto e o trajeto até o trabalho, ida e volta, tomahoras todos os dias latinstock

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