Revista da ESPM
Janeiro/fevereirode 2015| RevistadaESPM 127 se nota, apesar do baixo nível atual de desemprego, à geração de novos postos de trabalho formal. Há uma correção a ser feita nas tendências de cresci- mento do gasto comprevidência e assistência, aumento da carga tributária e queda do investimento público. Não apenas por razões econômicas, mas tambémpor razões sociais. Não basta ter mais renda, se a casa, ainda que própria, não tem esgoto e o trajeto de casa ao trabalho, ida e volta, tomamuito tempo todos os dias. Não há como incrementar ainda mais o saláriomínimo e pagar mais benefícios se a economia não cresce o suficiente para absorver a mão de obra e gerar a arrecadação de que o Estado precisa. Sem uma correção nessas tendências serádifícil atacar as causasmateriais domal-estar social. A crise da representação As razões domal-estar não são apenas de natureza estri- tamente material, ligadas à percepção de que o Estado brasileiro arrecada muito e devolve pouco à sociedade. Cresce a olhos vistos a descrença em relação aos gover- nos, aos políticos e às instituições políticas, emparticu- lar o Legislativo. O fenômeno não é exclusivamente bra- sileiro. Emtodo omundo democrático se nota o aumento da descrença na democracia representativa e nas autori- dades eleitas. A crítica predominante, porém, não con- siste na defesa da substituição da democracia represen- tativa por regimes autoritários e, sim, no argumento de que é preciso mais e melhor democracia. Vivemos hoje a mais longa e plena experiência democrática de nossa história, e não há nenhum sinal de que ela corra o risco de se encerrar como no passado. Feitas essas ressalvas, não há, porém, como fechar os olhos para o desprestígio crescente das instituições políticas. Não se trata de um problema menor. Sem ummínimo de crença nos parti- dos, no Congresso e nos governos, a democracia repre- sentativa corre riscos no longo prazo. À exceção de grupos de interesse bem organiza- dos e financiados, a sociedade não se sente represen- tada no sistema político. De novo, o problema não é só nosso. Mas aqui assume traços bem marcantes, porque os partidos e as identidades partidárias são frágeis, problema que paradoxalmente vem se agra- vando, em lugar de diminuir em nossa experiência democrática atual. Oproblemadarepresentaçãoseexplicitacommaiorcla- reza no Legislativo, mas é geral e sistêmico. Muito tênue é o vínculo do voto do eleitor comum com o mandato do parlamentar eleito. As regras do sistema eleitoral e parti- dário não ajudam o cidadão a fazer sua escolha de modo informado (sãomuitos os partidos e enormes as listas de candidatos). Amaioria sequer se lembra em quem votou na eleição anterior. Como imaginar que possamonitorar omandato do parlamentar escolhido?Os compromissos doparlamentar eleito sedefinemmenos na relação como eleitor comumemais na relação comgrupos de interesse estratégicos para a sua reeleição,menos no processo elei- toral emais emumespaçode negociação ao qual o eleitor comumnão temacesso. O governo é ator privilegiado nesse espaço, pois detém recursos de poder em maior quantidade que shutterstock
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