RESPM-JUL_AGO-2015-alta

entrevista | claudio bernardes Revista da ESPM | julho/agostode 2015 112 Revista da ESPM — A propaganda do mercado imobiliáriomudou de tendência nos últimos meses, e passou a reforçar o papel do imóvel como investimento seguro. Uma linguagem pragmática e bemdistante do apelo ao aspirado imóvel dos sonhos; o que reflete a crise pela qual passa o setor. Qual é a profundidade da desaceleração das vendas e as perspecti- vas de recuperação, em sua opinião? Bernardes — O mercado sempre teve esse viés e, a partir de 2014, voltou mais a atenção para a figura do investidor. Hoje, a tônica da pu- blicidade e do marketing imobiliário é oferecer na venda do imóvel uma oportunidade de negócio. No contex- to do mercado, temos um desequi- líbrio entre oferta e procura: muita oferta de imóveis para poucos com- pradores. É por isso que aparecem descontos fabulosos, às vezes até de 50%. É um convite, um chamariz para quem gosta de investir. Como houve retração demercado e necessi- dade de fazer caixa, surgem descon- tos imperdíveis. Mas essa loucura é coisa momentânea. Revista da ESPM — Há possibilidade de reação do mercado nos próximos meses, ou isso só ocorrerá mais adiante? Bernardes — Se fizermos uma mé- dia de vendas abrangendo a região metropolitana de São Paulo, pode- mos verificar que houve queda em torno de 20% na comercialização de imóveis. No entanto, vamos verifi- car que restaram 80% do mercado, que é uma faixa não desprezível. Consideradas as atuais circuns- tâncias, concluímos que esses 80% ainda são um nicho razoável de negócio. Nossa esperança é que essa queda permaneça no nível de 20% neste ano. Para o ano que vem, dependemos de como as empresas irão se estruturar e se adaptar às atuais dificuldades que afetam toda a economia no momento. A crise política não permite grandes pers- pectivas, não oferece estabilidade, um horizonte para planejar. Desse modo, quanto mais perdurar a crise econômica, aliada à crise política, de comando, mais tempo demorará para as empresas se reprograma- rem e retomarem o fluxo normal de vendas. O segundo semestre será dedicado a estruturar um caminho. Revista da ESPM — As grandes me- trópoles brasileiras estão repensando seu futuro. Mas o que se percebe é um descompasso grande entre o investimen- to do Estado e a ocupação pelo mercado imobiliário. Para onde essa situação vai nos levar? Bernardes — Teoricamente, o inves- timento público deve vir antes. No entanto, isso nem sempre ocorre. Independentemente do investimen- to público, a empresa procura aten- der à demanda. O que se vê é que a cidade não está ocupada da forma ideal ou mais adequada. E a realida- de é que a produção imobiliária de São Paulo tem cerca de 30 mil uni- dades e, de alguma forma, atende o mercado. É melhor morar em cir- cunstâncias não adequadas do que simplesmente não morar em lugar algum. Podemos analisar o exemplo da cidade de Songdo, na Coreia do Sul, em comparação com o nosso. Lá, o poder público oferece terreno, roubado ao mar, pelo aterramento e cria toda a infraestrutura, levando, por exemplo, o metrô até os prédios. O resto fica por conta da iniciativa privada. Aqui, como nós fazemos? O poder público não tem dinheiro para investir na frente, antecipada- mente. Qual é a solução para isso? Alguém responde que a desonera- ção tributária permitiria aumentar a arrecadação. Ótimo. Mas com a volta da tributação efetiva, passada a desoneração, vai haver aumento de custos. E assim surge mais uma dificuldade, um obstáculo para as empresas investirem. Para o gover- no resta equacionar melhor os gas- tos públicos, eliminar as apropria- ções indébitas e os superfaturar. Em resumo, é preciso sair do quadradi- nho da arrecadação, que sempre tei- ma em aumentar os impostos. Mas, se o governo não reequacionar os seus problemas, a máquina pública estará indo por um caminho difícil, ineficiente, impossível. Revista da ESPM — Como podemos sair dessa armadilha? Bernardes — Existem alternativas, como as parcerias público-privadas. Épreciso sair doquadradinhoda arrecadação, que sempre teima emaumentar os impostos. Se o governo não reequacionar os seus problemas, amáquina pública estará indopor umcaminhodifícil e ineficiente

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