RESPM-JUL_AGO-2015-alta

entrevista | claudio bernardes Revista da ESPM | julho/agostode 2015 114 76. É preciso continuar investindo em transporte de massa, de qual- quer forma. Quanto a isso, não há escapatória. Mas outra contribuição é estruturar modelos de ocupação ur- bana, pois assim se evita o excessivo deslocamento pela cidade. Se você conseguir mudar os modelos dessa ocupação, diminuirá o deslocamen- to pelos bairros. Nesse caso, o mode- lo adotado de fazer adensamento em certas áreas, ao longo de certos eixos de transporte, é correto. Revista da ESPM — Ainda assim, nos- sa estrutura atual daria conta? Bernardes — Talvez não seja sufi- ciente, porque temos poucos eixos de transporte coletivo. Mas é um cami- nho. No restante da cidade, o Plano Diretor rebaixou os índices de aden- samento, estabelecendo limite de al- tura. Os futuros eixos, quando forem implementados, já terão as regras do atual adensamento. Vai ajudar muito no planejamento. Mas há esse desafio de estrutura à vista. Pois os eixos exis- tentes cobrem somente 3% da cidade e os futuros, mais 3%, num total de 6%. Se o adensamento não contiver o aumento da frota de carros, as vagas de garagem irão diminuir, em face da lógica mais restritiva estabelecida ao eixo. Isso vai levar para aquilo que, justamente, se quer evitar: mais con- gestionamento. No próprio eixo não será preciso usar muito o carro, mas no trânsito para os outros eixos e no interior deles, sim. Se for estimulado o transporte público, automaticamente deixa-se o carro em casa. Então, não é preciso demonizar, diminuir a impor- tância do carro. Importante é oferecer alternativas. Mas para isso é neces- sário melhorar as comodidades do transporte público, com bons assen- tos, asseio, cores agradáveis. Assim, as pessoas ganham prazer em utilizar o transporte público, deixando o auto- móvel emsegundo plano. Revista da ESPM — Quais seriam as soluções possíveis para melhorarmos, de maneira objetiva, o problema dramático de mobilidade que temos hoje? Bernardes — A solução mais eficaz e duradoura seria a criação de uma malha de transporte bastante per- meável, o que, em São Paulo, signi- fica algo como 450 quilômetros ou 500 quilômetros de extensão, prin- cipalmente via metrô. Mas não te- mos tempo nem dinheiro para fazer com que isso vire realidade. Logo, a alternativa mais racional será a de reduzir o número de deslocamentos pela cidade, tirar uma grande quan- tidade de pessoas desse pesado fluxo de transporte. E como se faz isso? Criando-se mecanismos para facilitar a vida das pessoas no dia a dia. Os estudos do Metrô mostram que 80% dos deslocamentos pela ci- dade se dão de casa para o estudo ou para o trabalho. Priorizar linhas de transporte que façam essa ligação melhoraria muito a situação atual. Revista da ESPM — O planejamento da ocupação do solo poderia contribuir? Bernardes — Outra possibilidade é justamente adensar as vias que já A solução mais eficiente e duradoura seria a criação de uma malha de transporte bastante permeável, o que, em São Paulo, significa algo entre 450 quilômetros ou 500 quilômetros de extensão latinstock

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