RESPM-JUL_AGO-2015-alta
julho/agostode 2015| RevistadaESPM 115 As novas construções paulistanas terãomais espaço para o convívio emáreas comerciais e residenciais, maior ocupação do espaço público pelas pessoas e não pelo automóvel contam com infraestrutura, como foi contemplado no novo Plano Diretor. A criação de polos de desenvolvi- mento autossustentáveis também é uma alternativa interessante. Isso já está sendo feito pela iniciativa priva- da em São Paulo, em projetos como o Parque da Cidade, o Parque Global e o Jardim das Perdizes. São áreas que conjugam moradia, escritórios e espaços de lazer e restaurantes. Assim, as pessoas encontram tudo o que precisam na mesma região, sem precisar se descolar, desnecessaria- mente. O poder público deve contri- buir muito nesse aspecto, apontando as áreas de desenvolvimento de interesse e criando mecanismos de incentivo aos investimentos. Revista da ESPM — A perspectiva das cidades do futuro sempre nos re- mete a referências europeias, onde há mais diversidade e espaços públicos, apesar da intensa especulação imo- biliária. Mas cidades como São Paulo parecem rumar para um modelo mais asiático, de enorme adensamento em grandes estruturas de concreto. Será esse o nosso modelo e, com isso, não há o risco de se aumentar ainda mais a exclusão social? Bernardes — Heterogeneidade social nesses novos eixos é importante, o que se consegue, principalmente, pela educação, como ocorre em al- guns países. A solução é a educação bastante semelhante entre as clas- ses sociais. Podemos tomar como referência o Canadá. Lá, num prédio, você encontrará faxineira, engenhei- ro, eletricista, altos e modestos pro- fissionais que, graças ao nível educa- tivo, mantêm entre si uma boa convi- vência. Sugiro que, no planejamento da cidade, trabalhe-se em favor da miscigenação, da convivência. Em tal região, eu quero habitações para quem tem renda até três salários- mínimos. Outro exemplo: podem-se estudar novas soluções por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, que propõe emprestar R$ 76 mil para a construção de uma casa. Com esse dinheiro compra-se o terreno e se viabiliza um financiamento do Minha Casa. A prefeitura faz os seus gastos com infraestrutura e trans- porte. Colabora para um fim social importante. Mas o fato é que, na prática, esse projeto não prosperou. Aqui, no Brasil, é mais difícil resol- ver essa questão macroestrutural. No planejamento, no Plano Diretor da cidade, temos a oportunidade para trabalhar o aspecto da misci- genação de classes. A prefeitura faz gastos e investimentos, em vista da mobilidade, e pode promover o aden- samento com convivência. Revista da ESPM — De que maneira? Bernardes — Se a prefeitura e a so- ciedade entendem que se deve desa- propriar um terreno com valor muito maior para a construção de umproje- to habitacional popular, é justo que o proprietário primeiro receba o valor correto baseado na revitalização daquela área. Para não desembolsar uma quantidade de recursos de que não dispõe, o poder público pode emitir títulos para que esse proprie- tário invista, no futuro, em outras áreas com potencial construtivo que fazem parte do plano de expansão imobiliária da própria cidade. Se for uma decisão pelo bem da sociedade como um todo, é justo que cada um contribua com um pouco. Isso tam- bém traria mais segurança jurídica aos investimentos. Revista da ESPM — Na discussão do Plano Diretor de São Paulo, o tema da segregação veio à tona, com a polê- mica em torno da região dos Jardins. Os moradores alegam que são bairros históricos e residenciais, por isso não devem aceitar corredores de comércio. É um argumento válido diante das novas demandas urbanas que a cidade pede? Bernardes — Como estudioso dessa questão urbana, eu diria que as zo- nas monofuncionais estão fadadas a desaparecer. É preciso estabele- cer ali alguns eixos de comércio. Isso serviria de utilidade para os próprios moradores. Eles não preci- sariam sair, deslocar-se para outros bairros. Sem esses eixos de conve- niência, a própria segurança fica precária, por conta do isolamento. O eixo não contamina os bairros nobres e colabora para a segurança pessoal. Por exemplo: a alameda Gabriel Monteiro da Silva já se mos- trou viável nesse aspecto. É preciso
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