RESPM-JUL_AGO-2015-alta
entrevista | Clodoaldo Pelissioni Revista da ESPM | julho/agostode 2015 136 Revista da ESPM — Por que o trans- porte público se tornou o maior vilão das cidades brasileiras? Clodoaldo Pelissioni — O Brasil, até a década de 1950, era um país agrícola. Nos ú ltimos 50 ou 60 anos, tornou-se um país eminente- mente urbano. Hoje, possui cerca de 85% das pessoas vivendo em cidades, que se tornaram metró- poles sem o devido planejamento urbano. O maior desafio da mobili- dade é transportar pessoas no dia a dia para o trabalho e para a escola. Então, as pessoas deveriam residir mais próximas do trabalho e da escola. Isso, definitivamente, não ocorre no Brasil, de maneira geral, e as grandes cidades são as que mais sofrem pela falta de planeja- mento urbano. Hoje, os problemas maiores estão em São Paulo e no Rio de Janeiro; porém, Belo Hori- zonte, Fortaleza, Porto Alegre e Sal- vador também sofrem com esses problemas. São Paulo é a terceira maior metrópole do mundo. São 21 milhões de habitantes em 39 muni- cípios da Grande São Paulo e uma conurbação que denominamos de macrometrópole, comquatro regiões metropolitanas: a Baixada Santis- ta; a Grande Campinas; a região de Sorocaba; e o Vale do Paraíba. Revista da ESPM — Sem falar do peso da chamada macrometrópole na economia e na logística. Pelissioni — Temos o maior porto do Brasil, que é o de Santos; e um porto que vai crescer muito com a duplicação da rodovia dos Tamoios, que é o de São Sebastião. Temos três dos seis maiores aeroportos do país. E toda a problemática de mobilidade que se criou foi porque o Brasil in- vestiu muito no setor rodoviário nos últimos 50 anos, deixando de lado o setor ferroviário. Já temos no Estado uma proporção veículo-habitante maior que a norte-americana. Revista da ESPM — Esse é um dos nossos grandes passivos em termos de mobilidade, não é? Pelissioni — Nos Estados Unidos, são 300 milhões de habitantes para 150 milhões de veículos registrados. Aqui, noEstadode SãoPaulo, são41milhões de habitantes para 25 milhões de veí- culos registrados. Então, o problema de mobilidade perpassa cidades do interior, comoSorocaba, Bauru, Araça- tuba, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, porque o sistema de transportes é todo voltadopara os carros. Revista da ESPM — Como se co- meça a mudar isso? Quais seriam as medidas críticas iniciais? Pelissioni — Há necessidade de uma malha pública de transportes rápida, moderna e integrada, para que as pessoas possam utilizar o transporte público para ir trabalhar no dia a dia e só utilizar o carro eventualmente, nos fins de semana para viajar, por exem- plo. Isso é o que consideramos ideal. Revista da ESPM — E na capital, especificamente, qual é a situação em termos de transportes? Pelissioni — Temos uma malha de metrô de 78 quilômetros e umamalha de trens de 260 quilômetros na região metropolitana. Então, são cerca de 340 quilômetros de sistema metro- ferroviário. De metrô, temos cinco linhas, e seis linhas de trensmetropo- litanos. Eles foram construídos para serem trens suburbanos, e hoje, prati- camente, sãometrô de superfície. São transportados cerca de 7,5milhões de passageiros, diariamente. Revista da ESPM — Qual é o grande desafio? Quais são as prioridades na região metropolitana? Pelissioni — Expandir essa malha e reduzir o tempo dos intervalos entre os trens. Precisamos de trens novos, estações melhores, acessibilidade, serviços para os usuários, como o de wi-fi e de televisores nos vagões. Revista da ESPM — O transporte, um dia, será visto mais como solução do que como problema? Pelissioni — Com certeza. Em São Paulo, enfrentamos o planejamento urbano como uma questão problemá- tica. Agora, o governo de São Paulo e a prefeitura estão empenhados em esforço conjunto para instituir uma PPP [parceria público-privada] para a construção de habitações popula- res no centro expandido, onde está As pessoas deveriammorarmais próximas do trabalho e da escola. Isso, definitivamente, não ocorre noBrasil; e as pessoas são as quemais sofrempor causadessa carênciade planejamentourbano
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