RESPM-JUL_AGO-2015-alta
entrevista | Patrícia Ellen da silva Revista da ESPM | julho/agostode 2015 40 Revista da ESPM — Por que o interes- se daMcKinsey em cidades? Patrícia — Além do How to make a city great , temos trabalhos como o How to build a green city . Eles vie- ram de estudos que começamos há mais de cinco anos para entender em que direção as cidades estão evoluindo e o que está acontecen- do com as populações urbanas do mundo. Nós projetamos o que acon- tecerá com a população urbana do mundo, até 2025. Vamos ter mais ou menos 65 milhões de habitantes a mais nas cidades do mundo. Para se ter uma ideia, isso implica uma Chicago a mais por ano na Índia. E desses 65 milhões, cerca de 17 mi- lhões estarão no Brasil. A América Latina e o Brasil em especial estão entre as regiões mais urbanizadas do mundo. É diferente da Ásia, da África e até da Europa. Já temos 80% da nossa população vivendo em áreas urbanas. Na América do Norte, esse número está em 82%, enquanto na Ásia, para se ter uma ideia da diferença, o número cai para 47%. Revista da ESPM — Transformo o título do estudo em questão: como se faz uma grande cidade? Patrícia — A primeira providência é planejar muito bem. Nossas cidades desaprenderam a fazer planejamento urbano. Quando se fala em planejar, nós temos de considerar três pilares: smart growth [crescimento inteligen- te], fazer mais com menos e ganhar suporte para amudança. Revista da ESPM — Antes de detalhar tais pilares, o que a McKinsey entende por great city ? Patrícia — Para nós, na McKinsey, a cidade ideal é voltada para o fluxo. De- veríamos demorar menos tempo para ir de um ponto a outro nas cidades. Vou dar um exemplo: em Melbourne, que fez umplano de longo prazo coma meta de ser uma cidade para pessoas, criaram o ideal de “Cidade de 20 mi- nutos”. Isso quer dizer que ninguém deveria demorar mais de 20 minutos para ir de um ponto a outro na cidade: de casa para o trabalho, ou de casa para a escola. É uma forma bemdireta de traduzir trânsito e fluidez. Outra coisa é que a cidade tem de ser mais densa. Temos de ocupar melhor os espaços. Nas cidades as pessoas têm de considerar os espaços de usomisto. E têm de trabalhar com parcerias en- tre os stakeholders . Ou seja, precisam explorar parcerias público-privadas. Pouca gente sabe, por exemplo, que o Central Park não é gerido pela prefei- tura de Nova York, e sim pela Central Park Conservancy, uma associação de moradores que tem uma gestão pro- fissionalizada, mas é financiada por meio de filantropia. Revista da ESPM — O que mais é im- portante para ter cidades excepcionais? Patrícia — A great city tem de ser bem planejada em seus aspectos sociais. Precisa ser uma cidade melhor para o cidadão. Metrópoles brasileiras deixammuito a desejar, se você olhar para indicadores urbanos. O custo de moradia, da energia, da água, do ce- lular... Como se vive e se gerencia um negócio nas nossas cidades. O tempo para abrir um novo negócio. Ou se olharmos para aspectos mais sociais mesmo: mortalidade infantil, morta- lidade materna e doenças endêmicas e contagiosas. Não vamos alcançar as Metas doMilênio [oito objetivos de desenvolvimento social estabeleci- dos pela ONU, em 2000, com o apoio de 191 nações, a serem atingidos até 2015]. Uma great city não deveria ter esse tipo de problema. Revista da ESPM — Há também a questão da sustentabilidade. Até 2030, teremos 60% da população global — cinco bilhões de pessoas — habitando as cidades. No Brasil, bem mais que isso. Qual a fórmula adotada commais suces- so pelas metrópoles mais bem resolvidas para, ao mesmo tempo, dar conta da rápida urbanização e promover o desen- volvimento sustentável? Patrícia — Um conceito que tem cres- cido é o de green districts , áreas verdes equivalentes às das subprefeituras. A abordagem territorial é importante. Numa grande metrópole como São Paulo ou Rio, é impossível planejar para 20 milhões de pessoas. Tem de se pensar em termos de territórios. Há bons exemplos de green districts dos Estados Unidos àChina. Metrópoles brasileiras deixammuito adesejar se você olhar para indicadores urbanos.Ocustode moradia, da energia, da água, do celular... Como se vive e se gerenciaumnegócionas nossas cidades
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