RESPM-JUL_AGO-2015-alta
julho/agostode 2015| RevistadaESPM 43 Patrícia — As grandes metrópoles en- frentam“deseconomias de escala”. Co- meçam a ter muita gente junta, e isso gera sobrecarga no sistema de saúde, no sistema educacional e na questão da segurança. Quanto mais gente na cidade, pior a qualidade do ar. É por isso que todas as cidades que estuda- mos, mesmo as que sãomodelo, come- çama ter problema comaqualidadedo ar quando há grandes adensamentos. A população começa a ter problemas respiratórios. É comum esse tipo de desafio entre as grandes cidades do mundo, e a gente pode se inspirar em suas soluções, sim. O planejamento de uma great city começa com a com- binação de dois esforços. Um é aspira- cional, sonhar a cidade que queremos ter. O outro é identificar quais são os problemas que nós queremos resolver, e comoqueremos resolvê-los. Revista da ESPM — Como se resolve isso na prática? Patrícia — Toda cidade que quer ser great city precisa oferecer oportunida- des a todos. Logo, conectar o centro ao subúrbio, às regiões mais distantes, é parte fundamental do processo. No Rio de Janeiro, onde eu moro, há dis- tânciasmuito longas que precisamser percorridas. As pessoas vêm de Nova Iguaçu trabalhar no centro da cidade. Gastamde duas a três horas no trânsi- to, se o processo demobilidade não for bem pensado. Então essa primeira co- nectividade física émuito importante. A segunda conectividade é a integra- ção social. Quando se planeja uma ci- dade, ou um distrito, temos de pensar o que é necessário emsaúde primária, saúde secundária, escolas, creche e serviços comunitários. A partir desse planejamento micro, conseguimos criar ummodelo de integração social. O próximo ponto é integrar regiões culturalmente. Há cidades diferentes seguindo modelos diferentes. De um lado, você pode estimular todos a vir ao centro. De outro, levar a cultura aos distritos. Revista da ESPM — Aí também seria uma questão de escolha? Patrícia — Eu costumo dizer que é uma questão de escolha. Como con- sultora, eu já trabalhei em muitas ci- dades diferentes. Consigo ver as duas soluções sendo bem implementadas. O importante é pensar que não há cer- to ou errado, porque aí conseguimos sair de uma discussão ideológica e partir para a discussão prática sobre o que queremos implementar — e como vamos fazer isso. Revista da ESPM — Agora que já trouxemos exemplos práticos de desafios e soluções, eu queria entender mais no detalhe as três tarefas fundamentais para as cidades, de acordo com o estudo de vocês: gerar crescimento inteligente, fazer mais commenos e obter apoio para a mudança. Começando pelo primeiro tópico, o que vocês querem dizer com “crescimento inteligente”? Patrícia — Em primeiro lugar, aborda- gem estratégica. A cidade que cresce de forma inteligente é uma cidade próspera. Para ser próspera, ela deve oferecer empregos com renda digna e tem de gerar riqueza — ou seja, arre- cadação —, para que esse dinheiro seja reinvestido em políticas sociais. Dito isso, o primeiro passo é entender a vo- cação econômica da cidade para que órgãos públicos passem a ser os facili- tadores dessa prosperidade. Aprende- mos a fazer políticas de fomento que estimulem esses setores econômicos a florescer. Os Estados Unidos, por exemplo, têm três hubs de tecnologia e inovação. Quatro, se considerarmos Boston, Nova York, Vale do Silício e uma área de Chicago para cima. Cada um focou numa área diferente. O clus- ter de inovação médica está em Bos- ton. As startups de tecnologia estãono Vale do Silício. Revista da ESPM — Fazer mais com menos é um dos grandes clichês do mundo corporativo nos tempos de vacas magras, como hoje. No contexto das cidades, o que é fazer mais commenos? Patrícia — Essa é a área em que mais tenho trabalhado nos últimos anos, em cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza. Concordo com você. Em momentos de crise, todos voltam ao conceito de fazer mais com menos, porque têm uma limita- ção financeira. Mas é papel do gestor público, que lida com dinheiro do cidadão, ter uma gestão eficiente de recursos o tempo todo. Algumas cidades envolveram a sociedade em decisões como a de tirar os carros do centro. Isso você vê emCopenhagen, Estocolmo ou Londres. Precisamos aprender a fazer escolhas
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