RESPM-JUL_AGO-2015-alta
entrevista | Patrícia Ellen da silva Revista da ESPM | julho/agostode 2015 44 Revista da ESPM — Em teoria, sim, mas o Brasil tem cidades geridas com essa austeridade? Patrícia — Sim. Há muitas cidades que têm pensado nisso há tempos. Nesse caso, a gente até consegue citar exemplos no Brasil. Quando falamos em fazer mais com menos, o primei- ro passo é montar um planejamen- to muito bem-feito, de longo prazo, que defina quais serão os projetos prioritários para a cidade. Com base nisso, ter uma visão muito clara do orçamento para esses projetos, que defina como eles serão financiados. Fontes próprias ou terceiras? Que tipo de parceria é necessário para financiar os projetos? Depois, cria-se uma inteligência para monitorar a execução. Fazer mais commenos tem tudo a ver com disciplina e execução. Também tem a ver com transparên- cia. Então, a sociedade precisa saber quais são os projetos, como eles estão sendo executados, e se asmetas estão sendo alcançadas ou não. De modo muito simples, fazermais commenos tem a ver com definir as aspirações, traduzir essas aspirações em metas, tais metas em projetos prioritários, os projetos em orçamentos e, então, focar na entrega desses projetos com muita disciplina de execução. Revista da ESPM — Você falou em exemplos aqui no Brasil. Pode citar um deles? Patrícia — O Rio de Janeiro, que ganhou recentemente um prêmio de melhor cidade em gestão pública, já está entrando no terceiro ciclo de planejamento de longo prazo. Eles têm uma visão de 20 anos para a ci- dade. Conseguimos ver isso também em Curitiba, uma cidade que tem sido sempre fonte de inspiração. Já Fortaleza fez um planejamento deta- lhado sobre a mobilidade. Revista da ESPM — O terceiro ponto do tripé é o apoio para a mudança. O que é isso, na prática? Patrícia — Precisamos aprender a engajar a sociedade no planejamen- to. A gente só faz isso por meio das audiências públicas. Precisamos aprender a fazer de modo um pou- co mais estruturado. Aprendemos com as manifestações de 2013 que as pessoas querem participar. É papel do gestor público entender como propiciar essa participação. Essa é a primeira etapa. A segunda é estruturar modelos de parcerias público-privadas que funcionem — onde todos os “Ps” tenham o mesmo tamanho. Existem modelos muito bem-sucedidos no mundo, e a gente precisa trazer isso para cá também. O terceiro passo é desenvolver um modelo de governança transparente. Revista da ESPM — O que você quer dizer com isso? Patrícia — Se queremos atrair in- vestimentos e prosperidade para as cidades, é preciso resgatar ou for ta lecer nossas i nst itu ições. Ganhar credibilidade no planeja- mento. Muito do que eu falei aqui envolve investimento de longo pra- zo. Os contratos não devem mudar entre mandatos. Revista da ESPM — Crescimento in- teligente, fazer mais com menos e con- quistar o apoio para as mudanças são temas aspiracionais. Alguma cidade do mundo já conta com tal tripé montado? Patrícia — Muitas das que citei aqui têm esse tripé. As cidades escan- dinavas sem dúvida. Certas Cida- des-Estados funcionam bem nesse sentido. Por exemplo, Cingapura. Um exemplo recente é Dubai. Cidades asiáticas caminham nessa direção. Cidades australianas ou cidades ca- nadenses, como Calgari. Cada qual em um estágio de evolução próprio, com escalas diferentes entre si. Revista da ESPM — Minha próxima pergunta é justamente sobre escala. Uma cidade como São Paulo, que hoje temquase 12milhões de habitantes, tem condições reais de montar esse tripé? Patrícia — É necessária uma visão territorial, porque não vamos con- seguir uma solução para 12 milhões de pessoas. Atração de investimen- tos e definição dos polos econômi- cos podemos fazer em uma cidade de 12 milhões — que até se beneficia da escala. Agora, para planejar a saúde ou as políticas educacionais, precisamos ter uma visão micro, focada em territórios. Toda cidade que quer ser great city precisa oferecer oportunidades a todos. Logo, conectar o centro ao subúrbio, às regiões mais distantes, é parte fundamental do processo
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