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julho/agostode 2015| RevistadaESPM 71 ASíndromedeBrasília Por Arnaldo Comin Foto: Sandra Henningsson O s críticos de Brasília costumam dizer que a nova capital não foi construída para levar o desenvolvimento ao interior do país, mas para afastar do povo o centro do poder. Passados mais de 50 anos, os movimentos sociais aprende- ram os caminhos que levam ao Distrito Federal, mas as longas distâncias e a primazia do automóvel na cidade continuamafastando seusmoradores de si própria. Distante milhares de quilômetros dessa discussão, o arquiteto e urbanista dinamar- quês Jan Gehl não costuma se meter com política, mas usa a obra-prima de Oscar Nie- meyer e Lúcio Costa como o símbolo dos pecados cometidos pela moderna arquitetura do século 20. Cidades feitas para se admirar da janela do avião, obcecadas pela forma e os grandes edifícios, mas inóspitas para quemestá comos pés no chão. “É o que eu chamo de Síndrome de Brasília”, sintetiza Gehl. Em 2010, este arquiteto que colaborou intensamente nas últimas décadas para a re- vitalização de Copenhagen, ganhou projeção mundial com o livro Cidades para pessoas (Editora Perspectiva, 2014), onde rompe com os paradigmas do planejamento urbano movido pelos carros e coloca o indivíduo no coração das cidades. Andar a pé, de bicicleta ou por transporte público será a chave para a convivência mais humana e sustentável nas metrópoles do futuro. “Embreve teremos sete bilhões de pessoas vivendo emcidades; não haverá espaço para o automóvel da forma como ocorre hoje”, calcula. Gehl acredita que mudanças graduais e realistas podem levar a uma vida melhor nas metrópoles de países ricos ou pobres. Ele cita Nova York e Moscou como referências de centros urbanos que estão tentando se humanizar. Na América Latina, Bogotá e Curiti- ba, com sistemas bem planejados de ônibus, são exemplos de que muito pode ser feito, mesmo sem recursos bilionários. Dinheiro, por sinal, não é sinônimo de riqueza. Copenhagen, uma das capitais mais avançadas do mundo, começou sua mudança há 53 anos, reduzindo pouco a pouco o espaço para o automóvel. Hoje, 45% dos deslocamentos na cidade são feitos por bicicleta, uma solução de transporte muito mais barata e limpa do que as largas avenidas e viadu- tos que conduziram nosso modelo de desenvolvimento até aqui.

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