RESPM-JUL_AGO-2015-alta
entrevista | Jan Gehl Revista da ESPM | julho/agostode 2015 74 o tráfego de automóvel, mais con- gestionamento você terá. A melhor maneira de estimular as pessoas a usar o automóvel é fazer mais ave- nidas e rodovias. Se você quer mais bicicleta, basta investir em uma boa infraestrutura de ciclovias, que as pessoas irão cada vez mais usar esse meio de transporte. E se você quiser estimular a convivência, basta inves- tir mais em bons espaços públicos. Eu acredito que a palavra-chave para essa questão é “convidar”. O que o planejamento da sua cidade está con- vidando as pessoas para fazer? Revista da ESPM — A população res- ponde racionalmente a esse chamado? Gehl — Eu vou dar um exemplo sim- ples. Se você construir dez salas de ópera em uma cidade e retornar para lá depois de dez anos, vai verificar que os moradores daquele lugar fre- quentarão muito mais a ópera do que em outras cidades. Porque elas tiveram um chamado enorme para ir à ópera. Além disso, os espaços competirão entre si para oferecer os showsmais atraentes, o que vai gerar uma melhoria constante na qualida- de dos espetáculos. Revista da ESPM — São Paulo tem feito um esforço para inserir o uso da bicicleta no modelo de mobilidade da cidade, com a construção de grande quantidade de ciclovias. Isso tem gera- do imensa polêmica, e o atual prefeito enfrenta hoje a impopularidade entre uma parcela dos proprietários de auto- móvel que entendem essa política como restrição a direitos adquiridos. Pela ex- periência de Copenhagen, o que pode ser feito para minimizar esse conflito de interesses? Gehl — Aqui, esse processo foi feito gradualmente, em pequenos passos. Aos poucos, foi ficando cada vez mais difícil dirigir. Se essa mudança ocorre rapidamente, você estimula o conflito, porque uma parte da po- pulação sente que seus privilégios foram tomados pelo poder público. Em Copenhagen isso foi feito de tal forma que as pessoas foram aceitan- do naturalmente. Não houve contro- vérsia. Nos casos como o que você menciona em São Paulo, o fato é que as pessoas não conseguem enxergar de uma perspectiva mais ampla que a cidade deve ser repensada para as pessoas. Só assim poderemos ter cidades sustentáveis, com pessoas mais saudáveis, porque caminham e se exercitam mais todos os dias. Dessa forma, elas viverão mais, e teremos um sistema de saúde mais barato também. É preciso estimular o debate e conscientizar essas pes- soas que ainda estão presas em uma Jan Gehl, arquiteto dinamarquês: ”Fiquei impressionado como que vi emCuritiba, que serviu de exemplo para diversas cidades em todo omundo. O conceito de planejamento baseado em transporte público é umexcelentemodelo” shutterstock
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