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Revista da ESPM | julho/agostode 2015 94 Para Benedito Abbud, um dos maiores arquitetos paisagistas do Brasil, quando o assunto é o futuro das cidades, o primeiro passo é sonhar, voar o mais alto que a imaginação conseguir. Só assim é possível sair da mesmice e transformar o modelo ideal em um projeto possível de ser realizado. “Cada projeto que consigo realizar sempre é parte de um sonho muito maior!” Revista da ESPM — Vivemos em um país subdesenvolvido, onde a riqueza e a pobreza convivem com a falta de infraestrutura, moradia, mobilidade, segurança e educação. Diante dessa realidade, como é possível adaptar as melhores ideias e práticas urbanísticas internacionais ao cenário brasileiro? Abbud — Sonhar é preciso! Tudo começa a partir de um sonho, onde tudo é possível. Se você quer fazer a diferença na sociedade, é preciso sair da mesmice e voar o mais alto que a sua imaginação conseguir. O próximo passo é trazer essas ideias para a realidade. É um processo de adaptação que chamo de “sair do ideal e chegar no possível”, um caminho que é sempre muito mais restrito e li- mitado que o sonho. Cada projeto que consegui realizar sempre fez parte de um sonho muito maior. Atualmente, quando consigo implantar em um projeto 70% daquilo que sonhei já con- sidero uma grande vitória. Nestes 45 anos de carreira, aprendi que, na hora em que você reduz a sua expectativa, consegue viabilizar o sonho! Revista da ESPM — Seus projetos procuram mostrar que o paisagismo é muito mais do que construir um sim- ples jardim e que, quando bem-feito, pode agregar valor ao espaço público e ao empreendimento. De que maneira ele pode melhorar a vida das pessoas que moram nos grandes centros urba- nos do país? Abbud — As cidades estão muito complicadas, duras, complexas e poluídas. Mas não podemos perder a esperança de recuperá-las. Tenho trabalhado nas frestas de possibi- lidades para melhorar a qualidade urbana do cidadão. Um exemplo é a calçada viva, que expus na Casa Cor. Tudo começou em 2006, quando eu trouxe para o Brasil a ideia do piso permeável, abrindo um caminho para a discussão de projetos que pos- sibilitassem a permeabilidade das águas de chuva para o solo. Durante esses nove anos, desenvolvemos novas técnicas, como as biovaletas e os jardins de chuva — que fazem com que a água, em vez de correr para a boca de lobo e ir parar em um rio canalizado, seja reaproveitada no próprio local. Com isso, você pode reduzir consideravelmente o fenômeno das enchentes e também das secas, que todo ano acomete cidades como São Paulo. Hoje, o pau- listano vive uma situação inusitada: quando chove, fica com água até o pescoço, mas ao abrir a torneira não tem água! Esse é um problema sério e mostra que a drenagem da cidade precisa ser repensada. Revista da ESPM — As calçadas vivas poderiammudar essa realidade? Abbud —Sim.NaCasaCor,mostramos o sistema urbano de drenagemsusten- tável (os suds) — caixas sustentáveis de plástico que criam vazios debaixo dos pisos com o objetivo de reter a água da chuva e permitir o seu reúso para diversosfins. Adotadoemlarga escala, esse é um sistema que faz com que a água penetre vagarosamente no solo. Com isso, o solo fica mais hidratado, o quedeixaoarmais úmido, commenos partículas de poeira, logo, mais limpo. Como solomais úmido, tambémtería- mos árvores mais saudáveis, comme- nos quedas. Existeuma simbiose entre verde e vida: quanto melhor é a vege- tação, melhor é a qualidade de vida. A vegetação émuito importante nomeio urbano, por vários motivos, desde a saúde e o bem-estar até a questão da agradabilidade. Com as temperaturas Sonhoerealidade:duas facesdamesmamoeda! Benedi to Abbud | Benedi to Abbud Arqu i tetura Pa i sagí st ica

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