RESPM-JUL_AGO-2015-alta
Revista da ESPM | julho/agostode 2015 96 Revista da ESPM — Qual seria o cus- to para implantar suas calçadas vivas em uma metrópole como São Paulo? Abbud — Uma calçada como a que fiz na Casa Cor custa 20% a mais do que uma calçada normal. Não é nada exorbitante se você considerar o retorno que ela oferece à cidade. Afi- nal, qual é o custo de uma enchente e da tragédia social que ela ocasio- na? Certamente, o piso permeável poderia evitar muitas enchentes em São Paulo. Além disso, essa calçada tem luz de LED no centro para orien- tar pessoas com deficiência visual e bancos para as pessoas sentarem e se encontrarem com amigos. Se você considerar que a partir de sua implantação, as pessoas passariam a utilizar mais o espaço público, essa calçada não é um custo, e sim um investimento, pois ajuda a reduzir a violência dos grandes centros urbanos. No Brasil, espaço público é sinônimo de terra de ninguém e não um lugar de todos e para todos. São locais construídos apenas com inte- resse eleitoreiro, não são feitos para durar. Por exemplo: qualquer parque da Argentina tem gradil de aço inox. Aqui, o material utilizado geral- mente desmancha após a eleição. Como se trabalha com o pior asfalto e um concreto de baixa qualidade, o que mais temos são praças com pisos trincados, muros quebrados e gradil enferrujado. Lamento muito essa realidade, porque indica que os recursos públicos, muitas vezes, não são usados emprol da população. Revista da ESPM — Você trabalhou na construção de projetos inovadores, que procuram combater essa realidade com a implantação de novos conceitos, como a cidade criativa, de Pedra Bran- ca, em Palhoça (SC), e o Jardim das Perdizes, em São Paulo. O que essas ini- ciativas podem ensinar aos governantes dos grandes centros urbanos do país? Abbud — É possível transformar so- nhoemrealidade, oque faltaévontade política. Pedra Branca, por exemplo, não foi fácil de ser viabilizada. Muitos investidores aplaudiram a ideia, mas poucos, realmente, investiram para transformar o projeto em realidade. É preciso ter em mente que 85% da população brasileira vivem em cida- des, que não representam nem 1,2% do território nacional. Essas pessoas vivem acotoveladas em espaços cada vez menores. Mas a cidade é um lugar composto de gente, e que é preciso ser pensada e planejada para essa gente. Enquanto isso não acontecer, vamos continuar estreitando as calçadas Praça pública de 2,4 mil m 2 , criada por Abbud, no Shopping Cidade São Paulo, promete ser ponto de encontro para estudantes, executivos e turistas que trafegam pela avenida Paulista Benedi to Abbud | Benedi to Abbud Arqu i tetura Pa i sagí st ica divulgação
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