RESPM-MAI_JUN-2015-alta

entrevista | André Oliveira Revista da ESPM |maio/junhode 2015 18 André — É interessante esta pergun- ta, porque o cool hunter é um pouco a gênese da nossa profissão. Eu prefiro usar o termo pesquisador de tendên- cia, porque o cool hunter nasceumuito associado ao mundo da moda. A iden- tidade do trend forecaster (apontador de tendências), que surgiu ainda na década de 1980, conseguia ter uma abrangência mais ampla. Mas, de todo modo, eu gosto de dizer que hoje todo mundo é cool hunter . Porque todos têm o Google na mão, com essa capacidade de descobrir o que é legal e disseminar isso para os outros. Nesse jogo de nomes, ainda considero mais adequado o termo pesquisador do que forecaster , porque, de certa maneira, o futuro já chegou. O desafio é analisar e entender o impacto dessas tendên- cias. Mas é sempre bom lembrar que o nosso trabalho não temnada de “cool” ( risos ). É muito suor, trabalho de cam- po, análise de dados secundários. Eu gosto muito de uma expressão usada por pesquisadores britânicos que é o braile cultural . Você precisa tatear a cultura para entender os sinais que ela está enviando. Não vai ser algo fa- cilmente visível. Tem de sentir muita coisa no tato, mesmo. Revista da ESPM — Qual é, afinal, a entrega que vocês conseguem oferecer aos clientes, os insights efetivos que po- demmudar a estratégia de uma marca? André — Nós auxiliamos desde um cliente de moda a compreender ten- dências e traduzir em linguagem de cores e estilo, até uma empresa de serviços em apontar como será o futuro da fidelidade do cliente com as marcas. Vou dar um exemplo concreto de um cliente que é um canal de TV. Era um trabalho de campo para identificar tendências de consumo entre públicos da clas- se A/B e classe C. Foi um projeto que começou em 2011. Começamos a ouvir várias e várias vezes as mesmas referências de pessoas aparentemente muito distantes. Grupos que ouviam, assistiam e eventualmente queriam comprar as mesmas coisas. E aí ouvimos de ga- rotas da zona sul do Rio que o pro- grama mais legal de fim de semana era subir o morro na garupa de um motoboy e ir para os bailes. Então, começamos a ver esse movimento não só em São Paulo e no Rio, mas também em Porto Alegre e outras cidades. Tudo parecia muito estra- nho. Voltamos a campo mais duas vezes, pois acreditávamos que algo estava errado nessa resposta. Revista da ESPM — E qual foi a conclusão? André — Conforme fomos abrindo a amostra, com as diferentes res- postas, percebemos que o compor- tamento estava muito misturado. Aí, apareceu uma menina chama- da Carla, que disse assim: “Está tudo misturado mesmo. Tem nego da classe A na balada da classe C, e nego da classe C na balada da classe A. E isso é demais!”. Foi quando tivemos um estalo e per- cebemos que havia uma tendência de consumo não classista. Mais do que isso, quando existe essa mis- tura, começa a surgir um tipo de cultura diferente. As baladas, os cantores e os programas de TV que não são baseados por classes. Vol- tamos para o cliente e dissemos que tinha muita coisa para fazer. O consumidor está mais baseado em moods (estilos). Revista da ESPM — Como o cliente reagiu a essas descobertas? Por que temosdeclassificar aspessoaspor idade, quandoummenino de15anoseoavódelede65gostamdomesmogame? shutterstock

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