RESPM-MAI_JUN-2015-alta

entrevista | André Oliveira Revista da ESPM |maio/junhode 2015 20 própria voz. Todo mundo de alguma maneira quer se sentir especial. Revista da ESPM — Há mais ten- dências? André — Tem uma juventude muito realista também, disposta a discutir assuntos nossos, de se comportar de outra maneira. É uma manifes- tação interessante, mas ao mesmo tempo perigosa. Porque vivemos uma cultura de extremos em que tudo pode. No ano passado, nós detectamos — e agora está batendo forte na mídia — essa volta do funk proibidão e dos MCs mirins, cantan- do sobre sexo, drogas, ostentação e prostituição. Isso provoca um cho- que na nossa cara. Mas, afinal, isso pode? Claro que pode. É uma mani- festação cultural da juventude. Você pode ser muito infantil ou muito maduro para discutir esses temas, independentemente da idade. De al- guma forma essa juventude está dis- posta a abrir esses assuntos, o que é algo muito contemporâneo. De um lado, mostra um espírito libertário, mas sem dúvida é uma juventude muito mais permissiva. Revista da ESPM — Isso é positivo, na visão de vocês? André — Na Box, somos muito oti- mistas. O jovem está discutindo pro- pósito, que contribuição ele pode dar para a sociedade. Esse movimento na política não pode ser ignorado. Há uma vontade grande das pessoas em participar, mesmo que seja como ati- vista de Facebook. De novo, não é um movimento linear. Embora tenhamos vivido essa situação dividida entre “garantido e caprichoso” na última eleição, o jovem fala muito mais em uma articulação que tenha a ver con- sigomesmo, mas que envolva o outro, um pensamento mais coletivo. Em resumo, as macrotendências são: não linear, realista, gamer e coletivo. Revista da ESPM — Entrando na política, as gerações anteriores no Brasil tiveram um compromisso muito grande em assegurar a redemocratização. Havia certa convergência para o centro, ao menos na defesa das liberdades democrá- ticas. O jovemde hoje émais polarizado? André — Não. A diferença, na minha visão, é que esse eixo que puxava para o centro oscila muito mais hoje. Vai para a esquerda, direita, ao centro, de umamaneira não linear. O jovem é mais permissivo para expe- rimentar, testar coisas novas. E para as marcas, novamente, isso é muito difícil de interpretar. Ora eu gosto da cerveja premium, depois da bagacei- ra. Aí, em outro momento, eu quero a cerveja que é “cool” e pouco tempo depois não quero mais saber dela. É mais difícil fidelizar. O marketing ensina muito sobre consistência, mas como fazer isso com uma juven- tude cada vez mais inconsistente? Revista da ESPM — Ainda sobre os extremos, o jovem está mais para consu- mista ou anticonsumo? André — Sem dúvida, o jovem é pró- consumo, mas não necessariamente pró-consumista. Esse é, por excelên- cia, um tema que temos estudado bem de perto nos últimos tempos. O mais interessante é que esse cara está bus- cando novas relações como consumo. Vemos a tendência e a contratendên- cia andando ao mesmo tempo juntas. De um lado, você tem essa questão da sharing economy . E não é porque o termo está em inglês que não vemos. Há um movimento cultural da troca, do empréstimo. A troca da posse pelo acesso. E, por outro lado, você tem a ostentação batendo com força na cul- tura de massa. É pelo fato desses dois lados estaremsempre brigando que eu constato que esse jovem, sim, gosta do consumo. Mas esse consumo é cons- tantemente questionado. Revista da ESPM — O brasileiro tem fama de conservador. O jovem de hoje se encaixa nesse estereótipo, em temas como homossexualismo e religião? André — Eu consigo responder mais sobre o jovem urbano. Nesse meio, eu vejo esse conflito do jovem con- servador/liberal na boca das pesso- as. Por um lado, ele defende valores superestabelecidos, como a família, o casamento, a segurança, a carrei- ra. Mas, por outro, ele quer testar coisas novas. Não está claro para ele como lidar com o homossexua- lismo, as novas relações familiares e também as drogas, que é um tema muito presente. O que temos notado é um discurso mais permissivo: esse Em todos os campos que fazemos, os jovens falamque querem ser reconhecidos, não famosos. As escolhas fáceis são um tanto questionadas, há uma vontade forte de mostrar a sua própria voz

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