RESPM-MAI_JUN-2015-alta

maio/junhode 2015| RevistadaESPM 27 Consumo:proscritoouprescrito? Banidodas ciências sociais ehumanas pormuito tempo, o consumoagoraassume papel deprotagonista comomediador de todas as necessidades e desejos humanos, bemcomomotor da economia. Este éumtemaquemerece ser estudadomais a fundo! PorMario E. René Schweriner shutterstock O verbo consumir, segundo o Aurélio, signi- fica: gastar até ofim, dilapidar; destruir-se, mortificar-se comdor, ciúme, raiva; aborre- cer-se; abater-se, debilitar-se; alimentar-se com, aplicar dinheiro na aquisição de bens e serviços. Incrível que apenas a última das conotações do verbo seja negativa; não há uma só referência a conveniência, conforto, prazer ou usufruto que o termo pode vir a pro- porcionar ao consumidor. Não é à toa que o consumo assuma uma aura tãonega- tiva para tanta gente. Overbo que designa o ato de satis- fazer às necessidades humanas, bem como gerar con- forto eprazer, está emsuaorigemimbuídodedestruição. Boa parcela dos intelectuais e acadêmicos vinculados à área de humanas visualiza o consumo como sinônimo de: exagero, alienação, desperdício, ganância, ostenta- ção e futilidade. Pena. Pois tal pensamento é, nomínimo,míope. Limi- tado. E não percebe que aqueles adjetivos são sinônimo de consumismo, não de consumo, tão antigo quanto a vida humana. Quando não, tão antigo quanto o... Pecado original! (Não seria, então, a maçã a responsável por revestir o consumo desta aura pecaminosa?) Oconsumo temsido umtema periféricona academia. Atépouco tempoatrás, era tidocomoumtemabanidodas ciências sociais e humanas. Agora, os encontros e con- gressos de sociologia e antropologia já começama enca- rar o consumo como assunto quemerece ser discutido. Mesmonos cursos de graduação, nos quais o consumo assume uma condição de protagonista, ele é estudado emprofundidade, mas empoucas disciplinas: compor- tamento de compra; comportamento do consumidor; psicologia do consumo; sociologia do consumo; e antro- pologia do consumo (estou me referindo à maioria das instituições, mas deve haver outras pioneiras, cujas dis- ciplinas são mais abrangentes e ousadas até). O consumo, como mediador de todas as necessida- des e desejos humanos, bemcomomotor da economia, merece ser estudado mais a fundo, até como foco cen- tral de uma graduação. Até agora, conheço apenas um curso de pós-graduação e MBA especializado em con- sumo: o MBA em ciências do consumo aplicadas da ESPM. Porém é inviável cobrir um campo tão vasto e complexo em apenas algumas centenas de horas. Daí que a ESPM desenvolveu e acaba de lançar um curso pioneiro de ciências sociais e do consumo, que funde ciências sociais, psicologia, mercado e gestão, com mais de 3,4 mil horas de duração. Como profissional egresso de graduações em admi- nistração de empresas e psicologia, eu defendo o con- sumo, sim. Bem mais que isso, consumo não é uma questão de defesa ou não. Ninguém ‘defende’ o respi- rar. O consumo do ar, por exemplo, é um fato da sobre- vivência. Tampouco ninguém ‘defende’ o consumo da água. É outro fato da sobrevivência. Consumir significa sobreviver. Consumir significa viver. “Temos de compreender que quando os grandes pensadores do passado nos advertem sobre os demônios de nossos desejos, eles falam do vício. Nenhum grande educador, nem Cristo, nem Moisés, nem Sócrates jamais condenou o desejo. O que eles tentam nos mostrar é que deixamos os desejos definir nosso sentido de identidade.” Jacob Needleman ( O dinheiro e o significado da vida . Editora Best Seller, 1991)

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