RESPM-MAI_JUN-2015-alta
sociedade Revista da ESPM |maio/junhode 2015 28 Mas consumir não significa meramente ar, água, cesta básica, saúde, saneamento e transporte. A demar- cação das fronteiras entre necessidades e desejos não é nítida, ”embaçando” o conceito da ”digna sobrevi- vência bio-psíquica”. Habitação é necessidade. Mas quantos metros quadrados configura uma residên- cia ”digna” por habitante? A partir de que metragem a moradia configura um desejo? Uma habitação de 6,5 metros quadrados seria aceitável? Não, não é erro de revisão. São 6,5 metros quadrados mesmo, como mostra a reportagem publicada na revista Época , de 5 de janeiro de 2009: “Um grupo de ativistas lançou a Small House Society (Sociedade da Casa Pequena) para promover os benefícios ecológicos e econômicos das minimoradias. Os modelos têm preços médios de US$ 40mil e tamanhos que variamde 6 a 15metros quadra- dos. [...] Johnson vive em uma moradia de 6,5 metros quadrados no Estado de Iowa, nos Estados Unidos. A televisão dá lugar a um notebook, alimentado pela bateria. A coleção de discos e CDs foi parar dentro de um tocador de MP3 portátil”. Várias teorias das necessidades encampam lazer, conforto e prazer com parte das necessidades huma- nas. Talvez secundárias às de sobrevivência, como aquelas da base da hierarquia das necessidades de Maslow, descrita por AbrahamMaslow em Motivation and personality (Editora Harper&Row, 1954). Secundá- rias, porém necessárias. “ Carpe Diem ” Necessidades secundárias são geralmente satisfeitas por produtos e serviços supérfluos. Todavia, supérfluo não significa, emabsoluto, umbemou serviço negativo ou inferior. Significa simplesmente que é secundário no rol das prioridades humanas. Atente-se para o que o americano Thorstein Veblen escreveu em sua obra clássica A teoria da classe ociosa , que foi publicada pela primeira vez em1904: “O emprego do termo ‘supérfluo’ é a certo respeito infeliz. Tal como é empregado na vida cotidiana, traz um timbre de condenação. É usado aqui à falta de um termo melhor, que descreva adequada- mente a mesma série de motivos e fenômenos, e não deve ser tomado num sentido odioso, como se impli- casse um dispêndio ilegítimo de produtos ou de vidas humanas. De conformidade coma teoria econômica, o dispêndio emquestão não é mais nemmenos legítimo do que qualquer outro”. Sucede que o desejo pelo supérfluo pode ser tão pode- roso que chega a ser guindado à condição de necessi- dade. Uma necessidade artificial, não oriunda da con- dição psicobiológica do ser humano, mas advinda do ambiente de mercado: a propaganda e o marketing. Enquanto as necessidades humanas são relativa- mente limitadas, universais e objetivamente demar- cadas, os desejos — que representam sempre uma especificidade das necessidades — são ilimitados e subjetivos, uma opção particular do indivíduo. Isso gera a insaciabilidade dos consumidores, pois uma vez que um desejo tiver sido satisfeito, outro já se encontra à espreita. Umgrupodeativistas lançoua SmallHouseSociety para promover osbenefíciosecológicoseeconômicosdas minimoradias, compreçosmédiosdeUS$40mil e tamanhosquevariamde6a15metrosquadrados Oconsumo, comomediador de todas as necessidades e desejos humanos, bemcomomotor da economia, merece ser estudadomais a fundo latinstock
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