RESPM-MAI_JUN-2015-alta
sociedade Revista da ESPM |maio/junhode 2015 30 Consumismo é a dependência do prazer, conforto e ostentação advindos de bens e serviços, principal- mente das marcas de luxo, que conferem notoriedade ao consumidor. O seu status não emana de si como sujeito, mas lhe é chancelado pelas grifes. Ele coloca fora de si sua identidade como ser humano, projetan- do-a nas marcas. “Sem visar nenhuma necessidade racional, as empresas do luxo têm florescido explo- rando as fraquezas emocionais humanas”, diz Gian Luigi Longinotti-Buitoni, autor de Vendendo sonhos: como tornar qualquer produto irresistível (Editora Negócio, 2000). Ocorre que, por mais paradoxal que possa parecer, o consumismo também é bom para o sistema. Um sis- tema que inter-relaciona consumidor e economia, cujos frutos afetam o ambiente, que em seguida refletirá na economia e no próprio indivíduo. Até o momento em que concluo este breve artigo, ninguémainda resolveu essa inequação. Pois o pessoal das ciências sociais e humanas privilegia o ambiente. Já o pessoal da publicidade e propaganda, domarketing e da economia privilegia o consumo-consumismo. O que pode ser bom tanto para as pessoas quanto para a economia. O consumismo parece ser uma boa válvula de escape para pessoas que têm profissões (ou melhor, ocupa- ções), como trabalhadores braçais que executam tare- fas rotineiras e repetitivas, ou funcionários de escritó- rio também imersos em rotinas sem qualquer desafio intelectual. Sendo extremamente difícil para tais sujei- tos se destacarem e, principalmente, se realizarem, não seria o consumo um mecanismo extremamente rápido e fácil que lhes permitiria se diferenciar e con- seguir uma realização, ainda que distorcida? Já para intelectuais, artistas e vários profissionais liberais, é viável obter tal diferenciação, e até enveredar para o caminho rumo à autorrealização. Mas, para aquela grande massa amorfa, não seriam as marcas um dos seus “ legítimos” sonhos maiores? O antropólogo Daniel Miller defende que o consumo é um dos raros canais que restam às pessoas comuns para expressa- rem sua identidade perdida com a homogeneização e a massificação da produção capitalista. Se antes do advento do capitalismo de massa as pessoas podiam se expressar e diferenciar pelo que produziam, agora elas encontram no consumo ummeio para combater seu sentimento de alienação. Marcas, bens e serviços também são formidáveis antídotos para depressão, tédio e solidão, sendo excelentes veículos para preencher o vazio existen- cial de tantos. O papel da propaganda e do marketing no incentivo ao consumo é extremamente oportuno para, digamos assim, compensar muitas frustrações, mormente de ordem afetiva. Para a economia, o consumismo costuma ser uma magistral fonte de empregos. Milhares, quiçá milhões, de empregos estão subordinados à cadeia produtiva dos Desejos insaciáveis remetemàs lendasdeSísifoedas Danaides, damitologiagrega, ambas retratando”castigos” para todaaeternidade. Sísifo foi condenadopor Júpiter a empurrarmorroacimaumaenormeepesadapedra latinstock
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