RESPM_MAR_ABR_2015 ALTA

março/abril de2015| RevistadaESPM 115 um cenário de forte instabilidade políti- ca? Foi bem no meio daquele turbilhão que nasceu aW/Brasil. Washington — A década de 1980 foi terrível, mas nós ainda tivemos outra pior, quando a Dona Zélia (Cardoso de Mello, ministra da Fazenda) fez o confisco de todo o dinheiro. O que nos salvou foi que a W tinha uma relação tão boa com os nossos clientes que empresas de va- rejo atendidas por nós, como Posto São Paulo e Supermercado Sé — que tinham um dinheirinho entrando todo dia —, nos ajudaram a ser a única agência a pagar os salários naquele mês (março de 1990). Arnaldo — Que lições você tira dessas crises anteriores para o atual momento? Washington — As crises unem aque- las pessoas que se confiammais. Cri- se não é boa para ninguém, mas traz aprendizados. Arnaldo — Como alguém que sempre valorizou tanto o Brasil, de que maneira essa série de panelaços, de antagonismo político e acirramento de ânimos que divide a nossa sociedade te afeta? Washington — Do ponto de vista do cidadão, eu tenho verdadeiro pânico quando ouço coisas como: “Partamos para o impeachment ou, quem sabe, a volta dos militares”. Eu tenho quase certeza de que as medidas econômi- cas tomadas pelo ministro Joaquim Levy são praticamente asmesmas, ou muito similares, às que um possível ministro da Fazenda do Aécio Neves teria de tomar. A diferença, principal- mente, é que o Aécio entraria com o discurso do “tive de fazer”. Mas para a Dilma sobrou a ressaca do discurso da campanha: “Está tudo bem”. Prova- velmente, esse é o principalmotivo de decepção que joga essa carga negativa sobre a sociedade. A grande diferen- ça, mais que econômica, é de astral. É uma pena, porque estávamos nos acostumando a um clima de normali- dade na vida do país. Arnaldo — Entrando no tema da comunicação, qual é a sua leitura do impacto das mídias digitais nessa so- ciedade que se divide com a crise? Washington — As redes sociais sem- pre existiram. Antigamente, numa dessas vilinhas de bairro com as típicas senhoras italianas, todo mun- do já acompanhava a vida do outro. O que mudou agora é a velocidade da informação. Tem uma palavra que eu quero patentear — talvez por intermédio desta entrevista — que é o “hipocondríaco digital”. O que tem de gente que vai hoje aomédico já saben- do a cura é uma coisa fenomenal. É só entrar no Google para descobrir. Por outro lado, a tecnologia também ge- rou o anonimato mau-caráter. O Nél- son Rodrigues tinha uma frase ótima: “O burro sempre existiu, o problema é Temuma palavra que euquero patentear – talvez por intermédio desta entrevista – que é o ”hipocondríaco digital”. Oque temde gente que vai hoje aomédico já sabendo a cura é uma coisa fenomenal

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