RESPM_MAR_ABR_2015 ALTA

março/abril de2015| RevistadaESPM 19 fazer nada”. Assim ele agregou uma volatilidade maior a um mercado já tomado por volatilidades de expec- tativa. O especulador, quando per- cebe isso... É sangue para tubarão. Eu mesmo, na minha juventude pro- fissional, fiz isso pelo menos três ve- zes no Brasil. Então, há uma barbei- ragem na gestão do câmbio, que está criando uma volatilidade adicional na taxa de juro. Está fazendo a taxa de juro real no país ser maior do que precisaria ser, em um momento de recessão. Isso agravará ainda mais a recessão e pode colocar em risco o próprio mandato dele. Alexandre — Do Levy? Luiz Carlos — Do Levy. Porque o mandato dele é para fazer uma re- cessão administrável. Se ele criar um movimento mais forte de reces- são, vai ser questionado — e aí o país entra num círculo vicioso. Eu tenho medo desse pessoal, porque o Levy é da turma que diz que banana e câmbio têm a mesma formação de preço, o que não é verdade. Alexandre — Esse pessoal que você está dizendo seriam os economistas liberais? Luiz Carlos — É... O pessoal da es- cola dele. Alexandre — Da Universidade de Chicago? Luiz Carlos — É. Eu apoiei a esco- lha dele. Acho que ele era a melhor opção. Estava gostando da forma como ele estava levando a coisa, negociando, mas ele pisou na bola. Alexandre — Voltando a pensar em quem administra empresas, o que es- perar do câmbio? Luiz Carlos — O câmbio não é mais R$ 2,20. Nem R$ 2,30, mas também não é R$ 3,30. Alexandre — Houve o exagero na cor- reção que vocês economistas chamam de overshooting ? Luiz Carlos — Teve overshooting como sempre tem, e este overshoo- ting é ainda maior porque o governo jogou lenha na fogueira. As mãos que interferem na formação das ta- xas de câmbio de um país têm de ser mãos de pianista clássico. Como as do Mario Draghi no Banco Central Europeu. Aqui, vemos o câmbio ge- rido pelas mãos de um carranqueiro do rio São Francisco. Alexandre — Muitos dizem que a fun- ção do Levy é evitar que o Brasil perca o investment grade . Luiz Carlos — Não, isso é conse- quência. A partir do momento em que a presidente reconheceu que o modelo estava esgotado, que o que ela fez no primeiro mandato não deu certo e que precisa mudar, a princi- pal função do Levy é desenhar essa mudança. Mas desenhar a mudança comomandato dado pelo governo da Dilma. Ele não está lá para fazer uma revolução liberal. Ele está lá para construir um programa de ajuste fiscal que caiba dentro do governo de uma presidente como a Dilma. Ele tem limites muito claros. Precisa tocar commãos de pianista. Alexandre — Mas qual é o risco de o Brasil perder o investment grade ? Luiz Carlos — Esse risco não temos mais. Com tudo de errado que o Mi- guel Rosseto [ministro da Secreta- ria Geral da Presidência da Repúbli- ca] falou na intervenção dele depois da manifestação, a única coisa que foi repetida várias vezes por ele, e pelo ministro da Justiça, foi a neces- sidade de se fazer o ajuste fiscal. E a questão central do grau de inves- timento é a fiscal. Eles mudaram a política do BNDES, que era um fator importante, a política de crédito, que não depende do Congresso, já mudaram a política do Banco do Brasil e mudaram a política do Fies. As agências de risco, ainda mais com esse cenário político de mu- dança, não vão cortar o rating. Alexandre — Mas um pedaço do ajus- te depende do Congresso e o governo perdeu o Congresso. Luiz Carlos — Não perdeu. Ele não tem mais a liberdade de fazer o que quer, mas no Congresso você sempre consegue um meio caminho. Outra coisa é a seguinte: este governo gastou OBrasil terá, de 2018 emdiante, menos governo, mais reformas e umganho de qualidade importante como sociedade e economia. Oempresário temde estar ancorado nesse futuro

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