RESPM_MAR_ABR_2015 ALTA

março/abril de2015| RevistadaESPM 21 de minérios, proporcionalmente ao PIB. O dólar australiano já caiu tanto quanto o real. É que falta a esta equi- pe da presidente Dilma um pouco de sofisticação na argumentação, mas, de certa forma, eles têm razão. Como desculpa, passa. Você tem uma série de países que sofreram muito com a desaceleração da economia global. Alexandre — Olhando para frente, o que o cenário externo permite projetar? Luiz Carlos — Vai melhorar. A Euro- pa está começando a sair do buraco. O que irá nos ajudar demais é o dó- lar muito forte, que vai permitir ao Brasil voltar a exportar automóvel, caminhão emuitas coisas que, como dólar a R$ 2,20, não dava para expor- tar. Com o dólar entre R$ 3,00 e R$ 3,20, é evidente que está mais fácil. Quem está provocando isso, inde- pendentemente dos erros de gestão do câmbio, é esse dólar forte. Tanto que 30% do vigor da economia ame- ricana está indo para fora. Essa re- cuperação é absolutamente clássica. Alexandre — A China se vale dessa lógica também? Luiz Carlos — A China está com o maior saldo comercial da sua história. O problema é o modelo de crescimento da China. Ele é outro hoje. A matriz de demanda de im- portações deles mudou. E mudou em detrimento daquilo em que o Brasil é mais forte, como minério. Alexandre — Por que não há mais tanta ênfase em infraestrutura? Luiz Carlos — Agora é consumo. Em alimentação, o Brasil continua bem. O mercado de carne tem os preços mais altos da história. Alexandre — Quer dizer: para a Vale, não vai ser mais a mesma coisa, mas, para a Friboi, vai. Luiz Carlos — Ou para o exportador de soja. Alexandre — Na média, vai ficar me- lhor para o Brasil? Luiz Carlos — A questão externa está se equacionando e nos pró- ximos dois ou três anos acho que se normaliza. Só que a China não voltará mais a ser o que foi na época do Lula. Alexandre — Essa expectativa de em dois ou três anos ter a economia mundial colaborando reforça sua crença de que o futuro, a partir de 2016 ou 2017, é benigno para o país. Luiz Carlos — Você pode ter essa conjugação de um governo novo, reformista, com a economia mun- dial retomando o vigor. Se isso for verdade, é questão de tempo para a The Economist pôr na capa o foguete subindo. A imprensa é assim, res- ponde ciclicamente. Pode ser que em 2020 a gente se surpreenda com uma capa da The Economist com o foguete do Brasil subindo de novo. Alexandre — A ideia da “nova matriz econômica” do ex-ministro Guido Mantega está morta? Luiz Carlos — Está enterrada. E sem honras. Alexandre — E o que entra no lugar? Você passou boa parte do governo Lula dizendo que o PT usava um software pirateado do PSDB. Dá para dizer que software estão tentando implantar agora? Luiz Carlos — Não dá, mesmo por- que o software do PSDB teria de mu- dar, porque também envelheceu, uma vez que a sociedade mudou. Esse é o desafio do PSDB. Não dá para voltar com aquela lenga-lenga da PUC do Rio, do ex-ministro Pedro Malan. É outro software . Eu me consi- dero heterodoxo por natureza. Sim- plesmente porque não acredito em ortodoxia sempre. A ortodoxia tem de ser administrada com inteligên- cia, respondendo às mudanças con- junturais ou estruturais. Eu sempre fui considerado uma figura estranha, porque o PSDB me considerava um lulista — e, portanto, um heterodoxo — e o pessoal da Unicamp, onde eu dei aula, me tratava como ortodoxo. Acho que nos próximos anos estarei de novo do lado dos desenvolvimen- tistas, que são aqueles sujeitos que ficam amolando e questionando a ortodoxia burra. Como ninguémvai poder ficar esperando até novembro de 2018 para tomar as decisões de investimento, temos pela frente umano bem complicado, do ponto de vista de gestão de curto prazo

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