RESPM_MAR_ABR_2015 ALTA

Planejamento Revista da ESPM |março/abril de 2015 64 • Planejamento e ação são indissociáveis A leitura apenas parcial do PES pode levar a uma inter- pretaçãodistorcidanoentendimentodequenãoexistiria nenhuma novidade na concepção defendida por Carlos Matus a respeitoda articulaçãoplanejamento-ação. Con- tudo, a condução dessa articulação émuitomais intensa e sofisticada no método proposto pelo economista chi- leno. Na sua concepção o planejamento precede e pre- side a ação em todos os momentos e níveis da ação. Em outras palavras, a todos cabe a função do planejamento, sobretudo àqueles que possuempoder de decisão. Esse é, provavelmente, omotivo pelo qual ométodo ganhou a qualificação de “participativo” emmuitos ambientes nos quais foi adotado. • O objeto de análise e transformação é a “situação” OfocodoPESéa transformaçãoefetivadeuma realidade. Essamudançasedápormeiodeações (ouoperações) con- cretas que se situamnumdeterminado recorte espaço- temporal denominado “situação”. ParaMatus, situação é um recorte problemático da realidade estabelecido em função de uma proposta de ação transformadora, refe- renciada por atores sociais e seus respectivos contex- tos. A situação está sempre referenciada ao ator-plane- jador que deverá incorporar outros atores com os seus contextos e atitudes diferenciados em relação à situa- ção. Trata-se de ummétodo no qual as pessoas são con- sideradas concretamente em relação às suas vivências e individualidades. Interessa especificamente a atitude do ator, que pode ser totalmente diferente de um outro ator que viesse a substituí-lo em determinada função, de acordo comseu próprio interesse e entendimento da mesma situação. Considerada dessamaneira, a situação é autorreferenciada e policêntrica, pois deve admitir a diversidade de atores, seus interesses e recursos. • A questão do tempo (passado, presente e futuro) no planejamento Umdosmaioresproblemasnarealizaçãodoplanejamento estratégico é a velocidade das mudanças, sobretudo em ambiente de muitas incertezas. Em muitos casos, no momento da tomada de decisão, as informações coleta- daseanalisadasanteriormentejáseencontramdefasadas oude tal formamodificadas que pouco ajudam, podendo mesmo levar a decisões desfocadas ou ineficazes. OPES tenta minimizar esse efeito pela constante atualiza- ção do entendimento da situação observada, num pro- cessodepermanente análisequeprecisa ser realizadana implementaçãodaação. Tal procedimentoacabade certa maneira colocandoo tempo “presente” noeixocentral do planejamento. Entende-se que a ação será realizada aqui e agora. Sendo assim, devoobter omelhor entendimento possível destemomentoedispordecondiçõesparaaação. Isso não significa abandonar ou descuidar do futuro. Ao contrário, o que se quer é a transformação do presente para se viver uma situação futura, ou “situação-objetivo”, na terminologia deMatus. Opassado também temseu valor, pois ajuda a enten- der o presente. Contudo, o autor da teoria destaca que planejadores não são historiadores. Muitas vezes somos extremamente capazes de explicar o passado, mas nos descuidamos da capacidade que temos de transformar o presente. Em síntese, devemos, a partir do presente (posição do planejador/tomador de decisão), entender a situação observada coma ajuda do passado e comamotivação da vivência ideal de um futuro almejado. Esse fluxo se dá a todo momento, sobretudo naquele que precede a ação. • O triângulo de governo ParaoPESnãobastavocê ter umexcelenteplanodeação, fruto do processo de planejamento. Ele é apenas umdos três pontos capitais para o sucesso da iniciativa. Vale destacar que esse sucesso corresponde ao resultado da ação transformadora que deve se aproximar aomáximo da situação-objeto desejada. O segundo ponto capital se refere à capacidade de utilização dos recursos disponíveis para a realização do plano. Recursos aqui apresentam uma conotação ampla que envolve aspectos financeiros, cognitivos e organizacionais. De uma forma simples, isso representa o seguinte questionamento: possuímos recursos finan- ceiros, conhecimento e capacidade organizacional para realizarmos as ações desenhadas no plano? O terceiro ponto que fecha a ideia de triângulo de Apartir do presente, devemos entender a situação coma ajuda do passado e a motivação de um futuro almejado. Este fluxo se faz a todomomento

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