RESPM_MAR_ABR_2015 ALTA

entrevista | RAJ SISODIA Revista da ESPM |março/abril de 2015 80 liderança. As empresas têm muitos recursos, pessoas e inteligência emocional para lidar com crises. Se uma companhia age apenas em seu próprio interesse, terá uma resposta limitada. Mas se agir de maneira consciente em relação a todos os atores envolvidos, o resul- tado no futuro será muito melhor. Hoje, nos Estados Unidos, 88% das pessoas acreditam que trabalham em uma empresa que não liga para elas. Elas se sentem usadas como objetos. A visão é muito negativa. Por isso, uma situação de crise pode ser uma grande oportunidade para mudar essa percepção. A empresa precisa pensar como uma família, que age em conjunto para superar um problema, numa concepção de sacrifício mútuo. O gestor precisa enxergar seu impacto na vida do funcionário, das famílias deles e da comunidade ao seu redor. Arnaldo — Mas como isso pode ser feito na prática? Sisodia — Há casos bem-sucedidos de empresas que, em vez de demitir indiscriminadamente, mantiveram os empregos com redução de salá- rios e da jornada de trabalho. Esse tempo livre pode ser utilizado de maneira muito produtiva, engajando as pessoas a trabalhar emprol da sua comunidade. Isso eleva o moral cole- tivo e, quando os negócios voltam ao normal, você mantém todos os co- laboradores de que necessita. O fato é que testamos o nosso verdadeiro caráter em momentos de crise. Essa é a hora emque voltamos a fundo aos nossos valores, e normalmente eles dizem respeito à maneira como o in- divíduo se coloca perante o outro, em como assume sacrifícios e reparte o que tem. A liderança não é exercida com ativos, mas com ideias. As pes- soas não querem ser usadas como um recurso material, mas como uma fonte de colaboração e inspiração. Arnaldo — É cada vez maior o nú- mero de bilionários americanos que criam fundações, em que gerenciam lucros com impostos reduzidos, anco- rados por projetos sociais. Um bom exemplo é a Fundação Bill & Melinda Gates, que promove projetos huma- nitários na África. A Microsoft, no entanto, continua negando o acesso barato ou gratuito à sua tecnologia mesmo nas comunidades mais miserá- veis. Não há uma contradição nisso? Sisodia — Sem dúvida. Toda em- presa precisa considerar a socie- dade como principal stakeholder, por isso o negócio em si deve gerar benef ícios d i retos pa ra todos, dentro dos conceitos já consagra- dos de responsabi lidade socia l corporativa (CSR). Esse é um ponto no qua l temos investido muito, gerando ma is conscient i zação das empresas. Não adianta uma companhia aplicar dinheiro em programas de nutrição infanti l se os a limentos que ela mesma produz podem ser prejudiciais à saúde. Muitas empresas investem nesses programas como fer ra- menta de relações públicas para mel horar a sua reputação, mas isso não é efetivo. O mesmo vale Na Índia, uma das empresasmais admiradas, a Tata, mudou profundamente sua imagemquando passou a trabalhar ao lado do governo para atender às necessidades do país, ampliando seu raio de atuação emnovos negócios

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