RESPM-SET_OUT-2015-baixa
setembro/outubrode 2015| RevistadaESPM 113 “OBrasilprecisalevar aglobalizaçãomaisasério” Por Arnaldo Comin Foto: Divulgação P oucos países experimentaram um vaivém tão frenético em sua política industrial quanto o Brasil nos últimos 25 anos. Tivemos aberturas abruptas de mercado, priva- tizações, retomada de medidas protecionistas, expansão do financiamento público, guerra fiscal, estímulo às “campeãs nacionais” e aumento da participação estatal em segmentos estratégicos. Certas ou erradas, todas as iniciativas apontampara uma dura realida- de: a indústriabrasileira temdificuldadepara inovar ecompetirno topodacadeiaglobal devalor. Observador atento das novas potências emergentes, Gary Gereffi é professor de sociologia e diretor do Departamento de Globalização, Governança e Competitividade da Universidade de Duke (EUA) e acompanha hámuito tempo a cena econômica brasileira. Adespeito da sombra de pessimismo que encobre a indústria nacional, ele vê o país comoutros olhos. “O Brasil já ocupa um nível de médio para alto nas cadeias globais de valor”, afirma. Entre os pontos fortes estão umtecido industrial grande e ramificado, universidades e centros de pesquisas qualificados, se- tores deponta comoo aeroespacial e umdosmaioresmercados internos de consumodomundo. Para o acadêmico, o Brasil, com tantas virtudes dentro de casa, se enfraqueceu no cenário in- ternacional. “Comummercado interno tão grande, émuito tentador voltar-se para dentro e pro- teger sua indústria. Oproblema é que issonão favorece a inovação e abre espaçopara economias menores comuma posturamais dinâmica para fornecer aosmercados globais”, avalia. Nesta entrevista, Gereffi destaca que não há contradição em ser exportador de bens primá- rios e ter uma indústria de ponta. Ocaminho, segundo ele, é identificar segmentos, mesmo liga- dos a commodities, commaior espaço para inovação. “OBrasil já é uma potência agrícola e pode agregarmuito valor tecnológicono campo, namineração e emáreas comoomeio ambiente.” Para entrar no clube dos países emergentes mais competitivos, porém, o país “precisa olhar além do seu horizonte”. Isso significa avançar nas negociações de livre-comércio do Mercosul comoutros blocos regionais, fortalecer a indústria local de bens intermediários ou atrair empre- sas estrangeiras com poder de fogo em pesquisa e desenvolvimento. “Quanto mais internacio- nalizada, maior é a capacidade da economia para se adaptar a novos cenários. Mas, para isso, o Brasil precisa levar a globalizaçãomais a sério.”
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