RESPM-SET_OUT-2015-baixa

setembro/outubrode 2015| RevistadaESPM 117 derão acontecer a partir de grupos multinacionais estabelecidos na re- gião, grupos locais dentro da cadeia intermediária de exportações, ou mesmo tendo os governos como um importante ator no estímulo ao desen- volvimento. Na indústria aeroespacial, o Brasil é um excelente exemplo de como foi capaz de criar uma rede de fornecedores locais competitiva. E isso aconteceu comuma soma de fatores: o apoio direto do governo e a instalação de empresas internacionais, dentro de um esforço de maior transferência de tecnologia para opaís. Revista da ESPM — O governo ocu- pa, então, um papel central no proces- so de inovação? Gereffi — Os governos podem ajudar muito com a construção de políticas certas, mas boa parte da inovação vem de outras fontes, como das uni- versidades, centros tecnológicos e de engenharia, da presença de empre- sas estrangeiras ou mesmo de forne- cedores locais bem capacitados, que não precisam recorrer a multinacio- nais para investir emP&D. Revista da ESPM — Nós falamos das oportunidades no setor primário, mas o Brasil já foi um exportador de manu- faturados mais pujante do que é hoje. O que mais pesou nessa mudança: o rápido avanço da globalização, a entra- da de novos competidores, ou a nossa incapacidade de adaptação a essa nova realidade? Por que a nossa indústria parece ter perdido o rumo da inovação? Gereffi — Olhando para o Brasil, a questão é que, do ponto de vista da demanda, o país se voltou demais para o seu mercado doméstico. Isso é perfeitamente compreensível e muito sedutor, considerando o imen- so potencial do mercado interno brasileiro. Por isso, os investimentos foram canalizados para a formação de uma cadeia de fornecedores dire- cionada ao mercado. O problema é que esse movimento não gera neces- sariamente um estímulo à inovação. As empresas se tornam mais com- petitivas quando precisam disputar mercado no âmbito internacional. As economias mais dinâmicas que existem hoje — China, Cingapura e Coreia, por exemplo — tiveram su- cesso em identificar quais eram as principais demandas do mercado externo e se capacitaram para aten- dê-las. É um trabalho constante de aprimoramento e inovação para res- ponder ao que os importadores estão querendo. O Brasil tem um mercado doméstico tão grande que não preci- sou fazer muito esforço como outros países emergentes. Revista da ESPM — Há condições para reverter essa tendência e colocar a nossa indústria em um novo patamar internacional? Gereffi — Aí há um segundo tema bastante falado na literatura eco- nômica: os baixos preços chineses e o famoso custo Brasil. O Brasil sofre com as camadas extras de re- gulamentação que impedem tanto empresas locais quanto estrangeiras de se moverem mais rapidamente em termos de inovação e incentivo às startups . O país deu ênfase demais à produção local, seja por empresas brasileiras ou estrangeiras, que limi- tou a capacidade de entrada de novos produtos ao mercado, o que repre- senta uma importante fonte de ino- vação. Eu ouvi de uma das maiores empresas de equipamentos médicos do mundo, interessada em trazer de 25 a 30 novos produtos de alta tecnologia para o Brasil, que custou um ano e meio para obter todas as licenças necessárias à importação. No meio do caminho, muitos desses produtos já haviam ganhado ver- sões mais modernas. Então, o Brasil acaba se contentando com a oferta de um fabricante local e impede que produtos demaior tecnologia ajudem a impulsionar o mercado. Revista da ESPM — Fortalecer a indústria nacional é uma estratégia de risco, então? Gereffi — A globalização forçou mui- tos países a se juntar às cadeias glo- bais, no lugar de construir indústrias nacionais. Eu acredito que o Brasil, por conta do seu tamanho, optou por criar uma grande indústria nacional. Isso pode ser bom ao criar mais cone- xões internas e fortalecer a produção local, mas provoca estragos. O prin- cipal é se situar em um nível tecnoló- gico mais baixo. Além disso, os mer- Omodelodasmultinacionaisquecontrolamapenasas suasmarcasnãoémais suficiente.Vocêprecisaobservar essesgrandes fornecedoresglobais eatraí-losparao mercado, afimde supriracadeiacomcomponentes

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