RESPM-SET_OUT-2015-baixa
entrevista | Gary Gereffi Revista da ESPM | setembro/outubrode 2015 118 cados externos sempre irão se mover mais rápido, pois você pode reforçar suas vendas para a União Europeia ou para os Estados Unidos, de acordo com os movimentos da economia. Os países que estão conseguindo ter essa mobilidade também são aqueles que estão promovendo maior investimen- to estrangeiro emoutrosmercados. Revista da ESPM — Que exemplos de países o senhor citaria? Gereffi — Omelhor exemplo de suces- so de companhias em termos de ino- vação e desenvolvimento de produtos vemdaCoreia. Elas sãomuitograndes, globalizadas e estão espalhadas em diversas categorias. ASamsung queria ser aempresanúmeroumemtelefonia móvel, então mirou no modelo de de- senvolvimento de produtos da Sony e, há uns oito anos, criou uma nova área de P&D e design, composta por 650 pessoas e focada no mercado exporta- dor. Esta é a realidade e, se voltarmos ao casobrasileiro, veremos três pontos importantes. Primeiro: por conta de seu tamanho, o país tem a tentação de focar no mercado doméstico e, ainda assim, conseguir crescer. Há também a questãodaposição geográfica. Opaís está muito longe para se tornar uma força dinâmica em grandes mercados, como os Estados Unidos, Europa e Japão, comparado com alguns países europeus e asiáticos. As regulações de mercado são o terceiro fator, pois o governo brasileiro, ao tentar controlar todos esses elementos, desacelera o processo de globalização do mercado. Esses são os fatores que fazem com que o Brasil apresente índices me- nores de inovação e crescimento, na comparação comoutros países comos quais ele compete. Revista da ESPM — Ou seja, ter abundância de matérias-primas e um grande mercado interno não é suficien- te para criar uma indústria forte? Gereffi — Vale lembrar que muitos desses competidores têm uma ca- rência de recursos naturais e, por esse motivo, tiveram que partir para a inovação. É o caso da Coreia, Cin- gapura e Taiwan, por exemplo. Eles precisam mais da industrialização e da oferta de serviços, mas têm de encontrar uma maneira de associar essas capacidades aos mais diferen- tes mercados de exportação. E esses países fazem isso com o apoio de políticas de governo, para desenvol- ver alguns setores-chave da indús- tria doméstica. Mas tanto a Coreia quanto Taiwan sempre foram muito estratégicos na escolha dos setores nos quais investiriam com suporte do Estado. Em Taiwan, o país deci- diu ter uma indústria petroquímica forte, embora não tenha petróleo. O Brasil fez um tentativa similar muito interessante quando negociou com a Apple e a Foxconn para trazer a produção do iPhone. Gostei muito do argumento racional do governo, dizendo que apenas a montagem faria com que o aparelho custasse mais caro, mas, se a Foxconn in- vestisse em uma indústria local de componentes, ela serviria não só à Apple, mas também a várias outras empresas. Tendo funcionado ou não, esses são os elementos essenciais das novas políticas para reforçar o papel das economias nas cadeias globais de valor. Revista da ESPM — Empresas como a Foxconn e a Lenovo são exemplos do novo perfil da globalização? Gereffi — O modelo das multinacio- nais que controlam apenas as marcas não é mais suficiente. Você precisa observar esses grandes fornecedores globais e tentar atraí-los para o mer- cado, a fim de suprir o resto da cadeia com componentes. Essa é uma visão de política industrial mais consisten- te com a nova realidade. Isso repre- senta mais investimento Sul-Sul, e não apenas o Norte-Sul que tínhamos até hoje. E a realidade é que somente países muito grandes, como o Brasil, teriam capacidade de atrair uma empresa como a Foxconn. Se o país conseguir fazer esse movimento, ele melhorará sensivelmente sua posição nas cadeias globais de valor. Revista da ESPM — Em uma escala partindo de “muito baixo” para “muito alto”, em que posição o senhor acredita que o Brasil está hoje nas cadeias glo- bais de valor? Gereffi — O país está entre o “médio” e o “alto”. Em algumas indústrias, OBrasil temumtecido industrial enraizado e uma grande indústriadematérias-primas. Issopõe opaís, naturalmente, numaposição vantajosa,mas, para entrar na elite, precisa olhar alémdo seuhorizonte
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx