RESPM-SET_OUT-2015-baixa
setembro/outubrode 2015| RevistadaESPM 121 Se eu fosse o governobrasileiro, eunão estaria olhando para as dez maiores empresas do Brasil, mas para as dez empresas mais inovadoras. E tentaria avaliar de que forma eu poderia aju- dá-las a crescer e, assim, estimular o resto da economia. Países que estão dando atenção ao empreendedoris- mo vêm obtendo muito sucesso em inovação. Revista da ESPM — Que exemplos de países o senhor citaria? Gereffi — O governo chileno, por exemplo, criou um programa simples, oStartupChile, queofereceUS$30mil para as empresas mais inovadoras, ga- rantindoaindaespaçoe infraestrutura para elas trabalharem. Isso fez com que o país saísse de um nível muito baixo de empreendedorismo, consi- derando uma economia altamente importadora, para um conjunto alto de novas empresas ligadas à inovação. Os pequenos empreendedores têm muita mobilidade por natureza: eles vão para os lugares onde encontram as melhores condições para se estabe- lecer. E isso é uma grande vantagem para países pequenos. Agora, os gran- des países estão começando a olhar para os bons empreendedores que têm dentro de casa, como a China. Lá, os empreendedores têm muito medo de ter seu negócio estatizado ou ser engo- lidopor umaempresamaior. Por isso, o governo está tentando criar condições mais sustentáveis para que eles se es- tabeleçam. Isso envolvemuitas coisas, como uma cultura de venture capital [investimento de risco] e bases legais para os investidores. Revista da ESPM — Hoje, o Brasil é um dos países que menos possuem acer- tos tarifários de facilitação de comércio entre os membros do G20. Com 15 acor- dos, o país forma um bloco que detém apenas 7,8% do comércio mundial. Nos- sa economia está ainda mais ameaçada, considerando o avanço dos Estados Unidos em acordos com a Ásia e Europa e o bloco latino-americano do Pacífico? Gereffi — Acordos comerciais são polêmicos por natureza. Mesmo nos Estados Unidos, se houvesse uma votação popular, a maioria da população ficaria contra essas nego- ciações. Mas a minha opinião é a de que, quanto mais aberto é um país a outras economias, melhor será sua própria economia. O México possui 45 acordos de comércio, o Chile tam- bém tem vários. Dentro do contexto atual, emque os bens intermediários assumem um papel tão importante da economia mundial, todo o país que quiser exportar muito terá de im- portar muito também. Essa é a razão por trás de tantos acordos comer- ciais que estão acontecendo. Quanto mais distante o Brasil estiver desses acordos, menor será sua projeção no mercado internacional. Revista da ESPM — Estamos isolados? Gereffi —Hoje, oMercosul garante um dinamismo econômico importante, mas está restrito a um número peque- no de países emumcontexto regional. Ele pode funcionar bem dentro do bloco, mas mantém os países longe dosmercados globaismais dinâmicos. Isso é muito prejudicial para o Brasil, que precisa definir qual será sua es- tratégia de crescimento. Por muitos e muitos anos, o Brasil se baseou emum modelo econômico controlado pelo Estado, o que é justificável por ser um país grande, com muitas indústrias, criando uma cultura política entrin- cheirada, digamos assim. O México, por outro lado, nunca teve essa alter- nativa: está muito perto dos Estados Unidos e é forçado a fazer negócios com o outro lado da fronteira. Isso assegura muito mais empregos para os fornecedores mexicanos que expor- tam para o mercado norte-americano. Mas voltando ao tema principal, sim, eu acredito que esses novos acordos comerciais irão redefinir uma boa parte do comércio mundial. E isso irá acontecer tanto em acordos bilaterais quanto em bloco. Vários acordos irão surgir no futuro, e isso será positivo para o crescimento e a inovação. Mas, no estágio atual, creio que o Brasil está numa posiçãode desvantagem. Revista da ESPM — Como o senhor enxerga o papel do Mercosul nesse con- texto? Há uma corrente de pensamento que defende a extinção do bloco para que o Brasil tenha liberdade para costu- rar acordos bilaterais. E há quem pregue uma revisão profunda das relações in- ternas entre os países para destravar as negociações com outros blocos. Aquestãonão é preço, e simqualidade. Ter produto mais barato ajuda a vender,mas se oque você oferece é visto como commodity industrial, seumercado pode até crescer,mas a inovaçãonão vai aumentar
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