RESPM-SET_OUT-2015-baixa
entrevista | Gary Gereffi Revista da ESPM | setembro/outubrode 2015 122 Gereffi —Não é preciso “matar” oMer- cosul. Eu vejo esses blocos regionais como um degrau para se alcançarem acordos maiores. Você tem o Nafta, o Apec [da Ásia-Pacífico], blocos com os quais os países doMercosul podem fortalecer seus laços econômicos. É preciso revitalizar o Mercosul e negociar acordos com outros grupos regionais. É claro, custa muito para se alcançar um acordo mesmo entre cin- co ou seis países. No caso do Merco- sul, há o Brasil e a Argentina, que são economias grandes, mas o fato é que o bloco também não tem ido bem por conta da baixa atividade do Brasil, que é muito maior em relação aos demais. E há também a questão da Argentina, que sempre está às voltas com pro- blemas econômicos e não consegue atingir seu potencial pleno. Mas essa é outra história [risos]. Voltando ao tema, este é o momento de fortalecer o Mercosul nas conexões externas ao bloco e talvez a melhor saída seja por meio de iniciativas empresariais. Revista da ESPM — Há ingerência demais dos governos, em sua opinião? Gereffi — Em lugares como a Argen- tina é certo que existem movimentos empreendedores interessantes, e uma solução seria dar foco aos setores em- presariais com mais potencial, crian- do uma estratégia de estímulo à ino- vação junto com o resto do Mercosul. É possível elevar o padrão de serviços a partir de uma ação coletiva. Se todos trabalham juntos, você pode reunir as pessoas mais capazes de cada país e gerar uma economia de escala para tornar esses setores mais competi- tivos fora do bloco. Um dos maiores problemas quando as pessoas criam políticas para atração de capital ex- terno é que todos os investidores são vistos de maneira homogênea, como se fossem todos iguais. O que a Ásia fez de inteligente nesse sentido entre os anos 1970 e 1980 é que os países tinham boards de planejamento estra- tégico. Primeiro no Japão, depois na Coreia, emTaiwan e Cingapura. Revista da ESPM — Como isso funcio- nou na prática? Gereffi — Eles faziam pesquisas de- talhadas do cenário das empresas domésticas para identificar suas fra- quezas. Depois que o problema era localizado, os governos iam atrás dos investidores estrangeiros que fossem capazes de solucionar essa falta de competitividade. Enão precisa ser, ne- cessariamente, as empresas líderes, mas as multinacionais do segundo escalão. Pode ser um arranjo de inte- resses mútuos, pois as empresas tam- bém não precisarão das melhores ca- pacidades para ter oportunidades de crescimento. A questão é que muitos países não conseguem enxergar obje- tivamente suas economias, damesma forma que faria uminvestidor interna- cional. No caso do setor aeroespacial brasileiro, é claro que os fabricantes de componentes são muito melhores que no México e em vários outros países, por exemplo. Mas o papel das boas agências de investimento é pes- quisar a fundo as forças e fraquezas de seus mercados internos para suprir o investidor estrangeiro das informa- ções que ele precisa e, assim, atrair as empresas que são mais estratégicas para o país naquelemomento. Revista da ESPM — O senhor acredita que o México ameaça tomar o lugar do Brasil como grande polo industrial da América Latina? Quais são as forças e fraquezas dos dois países? Gereffi — A força do Brasil é que o país tem uma política estratégica consistente. Você pode discordar de determinadas posições, mas no todo é uma visão muito forte e res- peitada pelos players domésticos que estão no Brasil. O México, por sua vez, teve muitos problemas em de- senvolver uma política estratégica consistente ao longo dos últimos 15 ou 20 anos. Parte do problema mexi- cano está relacionada à corrupção e à questão das drogas, o que impossi- bilitou o governo de focar na econo- mia. Essas são as principais diferen- ças entre os dois países, em minha opinião. E, novamente, o Brasil tem muito mais força em áreas como engenharia, ciência da computação, além de universidades e institutos de pesquisa de classe mundial. O México está tão subordinado à econo- mia norte-americana que os Estados Unidos conseguem drenar com faci- lidade os melhores talentos mexica- nos. Além disso, os Estados Unidos oferecem muitas oportunidades de crescimento fácil para o México em Nosúltimos40anos, aeconomiapassouaserorientada pelademandafinal doconsumidor.Asgrandes cadeias devarejoeasNikes eApples estãona liderançahoje porque tiverammais sucessoematenderaessademanda
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