RESPM-SET_OUT-2015-baixa
Revista da ESPM | setembro/outubrode 2015 128 inovação A inovação reversa é aquela desenvolvida por subsidiárias instaladas em países emergentes (por exemplo, o Brasil), e que acaba sendo transferida para a matriz cor- porativa e para outras subsidiárias em países desen- volvidos. Quando isso acontece, a subsidiária de um país emergente passa a ser um centro de inovação em determinada área para uma empresa estrangeira com sede num país desenvolvido. Essa definição mostra que a inovação reversa quebra estereótipos. Primeiro, por admitir que a inovação pode ser descentralizada nas filiais localizadas em mercados emergentes. Segundo, porque propõe que a matriz não somente descentraliza a inovação para mercados emergen- tes, como também concebe que essa filial pode vir a ser um centro de inovação. O terceiro paradigma quebrado é uma consequência dos dois primeiros: a inovação reversa concebe a organização multinacio- nal como uma verdadeira empresa do conhecimento, uma vez que admite que a inovação está dispersa em todos os locais. Contudo, paira uma questão: por que uma empresa multinacional deumpaísdesenvolvido faria investimen- tos de inovação emmercados emergentes? O sistema de inovação que fomenta as atividades das empresas é, semdúvida,menos privilegiadonessesmercados. Então, qual é a lógica de levar a inovação para esses países? Eis um diferencial substantivo da inovação reversa e que complementa a definição descrita acima. Emgeral, a inovação tradicional está ancorada em atividades de alta intensidade tecnológica e pesquisa e desenvolvi- mento (P&D). Oenfoque da inovação reversa é diferente. Seu objetivo a priori é inovar para desenhar processos, produtos e serviços frugais, com custo baixo, visando atender à crescente classe C, mas também às classes D e E. Portanto, não estamos falando necessariamente de uma inovação de P&D ou da área de engenharia da empresa, mas de uma inovação dispersa pelas diferen- tes áreas da companhia e que temcomo objetivo reduzir o custo dos processos organizacionais, torná-los mais enxutos, simplificados e sem perder a atratividade do produto ou serviço oferecido. A importância da inovação reversa Por que a inovação reversa é importante? Essa prá- tica ganhou destaque com a crise internacional de 2008/2009. Muitas empresas multinacionais de países desenvolvidos observaram a diminuição do poder de compra dos seus mercados tradicionais — como os paí- ses desenvolvidos e as classes A e B dos países emer- gentes. Isso afetou as margens das multinacionais, logo elas precisavam sair dessa situação. A inovação reversa é uma das soluções por três razões. Primeiramente, a inovação de produtos e serviços para a classe C configura um redireciona- mento para as multinacionais de países desenvolvi- dos. Basta observar o mercado da maior parte dessas empresas para constatar que elas tradicionalmente deixaram de escanteio as classes mais baixas. Con- tudo, a realidade mudou. A classe C e os países emer- gentes constituem um mercado imenso e ávido por compras. Caso as multinacionais não aprendam a atuar nesses mercados, as competidoras oriundas dos mercados emergentes vão ocupar esse espaço. Assim, os mercados emergentes servem de base para a multinacional aprender a fazer a inovação de produtos e serviços. Uma subsidiária com sucesso nessa inovação teria grandes chances de ocupar uma posição diferenciada na cadeia global de valor da multinacional, tanto no sentido de ofertar um produto para outros mercados emergentes quanto para atender a uma demanda com menor poder de compra nos mercados desenvolvidos. O segundo indicativo que aponta a inovação reversa como solução está relacionado ao custo reduzido da iniciativa, o que permite às multinacionais auferi- rem ganhos nas suas margens. Para competir em paí- ses emergentes, as subsidiárias dessas empresas têm de ter processos organizacionais mais “enxutos”. E há duas razões para isso: a pressão pelo preço mais baixo exercido pela demanda e a pressão pelo custo mais baixo decorrente das mazelas institucionais que elevam o custo da produção — como o custo Brasil, ou seja, imposto, burocracia, falta de infraestrutura etc. Quando a multinacional obtém essas inovações com A inovação reversa atua emprol dos mercados emergentes, como o Brasil, que não possui sistemas de inovação bemestruturados em todos os setores
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