RESPM-SET_OUT-2015-baixa
entrevista | Mark Dutz Revista da ESPM | setembro/outubrode 2015 18 brasileiro e a uma abertura maior do país aos acordos de livre comércio. Da perspectiva das cadeias globais de valor, esses acordos são importantes para diminuir as distâncias de desen- volvimento tecnológico entre Estados Unidos, Canadá, Europa, América Latina e o LesteAsiático. Revista da ESPM — AAmérica Latina tem passado por ciclos sucessivos de políticas liberais, crises, políticas esta- tizantes, e crises novamente. Qual é o ponto de equilíbrio necessário para que a região consiga melhorar sua posição no mercado global? Dutz — Essa é uma realidade, e eu acredito que parte da solução seja não enveredar para extremos. O problema é que, quando os países migram de políticas de Estado para políticas ex- cessivamente liberalizantes, é difícil encontrar um ponto de equilíbrio. A questão principal da regulação dos mercados por si só é que ela não con- templa as desigualdades de riqueza. Em vez de mudar tanto de lado, Brasil e outros países da América Latina de- vemabraçar aberturas demercado que consigam, ao mesmo tempo, ampliar sua produtividade e contemplar suas desigualdades. O verdadeiro desafio é aprender dequemaneiraas economias podem ser estruturadas visando à competitividade, sem perder os avan- ços sociais que o Brasil, por exemplo, teve nos últimos anos. Há grandes ave- nidas que são liberais emsua essência, mas que podem trazer ganhos sociais importantes, dividindoaprosperidade. Revista da ESPM — Existe uma re- lação muito forte entre inovação e alta tecnologia, mas muitas vezes a inovação consiste em trazer soluções simples para as populações mais carentes. O senhor escreveu recentemente um livro sobre inovação na Índia. Que lições podemos tirar da força criativa e empreendedora dos indianos? Dutz — Existe um grande entusias- mo sobre o futuro em coisas como nanotecnologia ou avanços que irão mudar a maneira como vamos viver. Mas, em minha opinião, as tecnolo- gias de ponta não deveriam estar no topo da agenda. Para mim, a agenda mais importante está no que chamo de cacth up innovation : como chegar até as tecnologias que já existem no mundo para melhorar a maneira de fazer as coisas hoje. No livro sobre a Índia, que traz uma mensagem im- portante para países como o Brasil, eu tentei mostrar de que maneira os países podem aprender com os seus melhores exemplos, e com os exemplos de outros lugares, em vez de se concentrarem na busca pela fronteira do conhecimento. A tec- nologia de ponta envolve alto risco e investimento, enquanto a minha tese defende o compartilhamento de tecnologias de menor risco e custo, com retornos enormes para a economia e a sociedade. Histori- camente, a Índia sofreu com uma imensa dispersão de produtividade, mas se você observar 10% das em- presas mais eficientes, elas conse- guiram um nível de produtividade cinco vezes maior, muitas vezes ba- seado em exemplos que vieram do exterior. Se você consegue difundir esse conhecimento para as demais empresas, isso é uma mensagem muito poderosa para o conjunto da economia. Revista da ESPM — A inovação está muito mais ao alcance da maioria das empresas do que se imagina, então? Dutz — Em outras palavras, esse mo- vimento faz com que as empresas consigam produzir mais com aquilo que já têm dentro de casa, melhoran- do a produtividade e qualificação dos seus trabalhadores. Isso contribui para o aumento do consumo e, por consequência, reduz o desemprego. A inovação pode significar mais oportu- nidades para as camadas mais pobres da população. As populações mais excluídas normalmente não geram interesse comercial para uma série de serviços, como, por exemplo, ino- vações que poderiam tratar de várias doenças. Mas se você pratica um pro- cesso de inovação que chegue até ela, está criando um mercado que antes não existia. E o governo, nesse senti- do, tem um papel muito importante, como estimular o desenvolvimento de maneira inclusiva, tendo como principal objetivo a oferta de mais e melhores empregos. Odesafio está em criar canais de distribuição cada vez melhores, com produtos mais acessí- Oconceitoda cadeia global de valor é produzir um, dois ou três elos da cadeiademaneiramuito competitiva, recorrendo a fornecedoresmais eficientes emoutras atividades no exterior
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