RESPM-SET_OUT-2015-baixa

Revista da ESPM | setembro/outubrode 2015 22 Estratégia Q uando me formei em economia, em 1975, e comecei a trabalhar na promoçãodas expor- tações brasileiras, logo tive a exata noção da importância da competitividade sistêmica paraocrescimentoda economiadeumpaís ouda lucrati- vidade e sobrevivência de uma determinada indústria. O Brasil ainda era umtradicional exportador de commodi- ties, comlarga predominância do café emnossa pauta de exportações. Mas a súbita elevação do preço do petróleo, em1973, havia gerado umdeficit comercial periclitante para a economia brasileira, e as reservas cambiais mal davam para cobrir alguns meses de importações essen- ciais para nosso país. Em1975, as exportações totais do Brasil eram de US$ 6 bilhões, sendo que somente o café respondia por 60%desse total. Na época, tambémexpor- távamos outras commodities agrícolas eminerais, como cacau, açúcar eminério de ferro, que elevavamas expor- tações de produtos básicos para, aproximadamente, 80% do total. Os outros 20% (US$ 1,2 bilhão) eramcompostos por produtos manufaturados e de baixo valor agregado. Desse quadro pouco animador surgiu uma forte e indis- pensável política de apoio às exportações brasileiras, enfocando, principalmente, nossa incipiente indústria de produtos manufaturados. Parecia-nos uma missão impossível sair pelomundo vendendoprodutosmanufa- turados brasileiros,mas era quase uma obrigaçãopatrió- ticaparaas empresasbrasileiras trabalhar comempenho na busca demercado exterior para seus produtos, e con- vocar jovens como eu para se alistaremnaquele inédito exército de exportadores, mesmo semnenhuma experi- ência prévia e pouco preparo técnico. Obviamente, víamos que asmelhores possibilidades de vendermos nossasmanufaturas estavamnos países emdesenvolvimentonaprópriaAméricaLatinaenocon- tinente africano. As condições básicas de competitivi- dade estavamdadas: nossos preços eramrelativamente atrativos, em face de custos locais reduzidos e uma taxa de câmbio vigente bastante competitiva e previsível por contadeuma regrademinidesvalorizaçõesdiárias.Havia umórgão, a Carteira de Comércio Exterior (Cacex), que, embora fosse vinculado ao Banco do Brasil, na prática, atuava como uma poderosa Agência de Comércio Exte- rior. A Cacex estimulava as exportações com financia- mentos competitivos nas fases pré e pós-embarque, com ressarcimento tributário por meio do mecanismo do crédito prêmio, e ainda prestava todo apoio técnico e institucional na promoção de nossas exportações. A qualidade de nossos produtos ainda era mediana, mas perfeitamente aceitável e talvez mais apropriada para os países de menor renda para os quais nos dirigíamos em concorrência aos tradicionais produtores exporta- dores europeus. As multinacionais estrangeiras que já estavamesta- belecidas no Brasil eram estimuladas a daqui exportar seus produtos para outros países, caso quisessem tam- bém importar insumos oumáquinas estrangeiras para sua subsidiária brasileira. E as novas que vinham aqui se instalar só eram autorizadas a entrar no mercado brasileiro se apresentassemdesde o início umcompro- missomínimo de exportação denominado de Programa Especial de Exportação (Befiex). Havia uma verdadeira obsessãonacional pelas exportações, e o exportador bra- sileiro era visto como umpatriota, umverdadeiro herói nacional. É importante ressaltar que, naquela época, não havia nenhuma evidência de concorrentes asiáti- cos como temos hoje. Produtos chineses, nemsinal: eles

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