RESPM-SET_OUT-2015-baixa
Revista da ESPM | setembro/outubrode 2015 24 Estratégia explicado pelo recente boom das commodities, do que por um eventual súbito ganho de competitividade da economia brasileira. Ao contrário, ainda padecemos de umconjunto de desvantagens competitivas que oneram o custo de nossos produtos e determinam uma baixa produtividade de nossos fatores de produção, espe- cialmente no setor industrial, já que no agronegócio, de uma maneira geral, o Brasil ainda permanece em boa posição relativa. Acompetividadedeumpaísoudeumaeconomiaé fator fundamental para o crescimento econômico, para o pro- gresso social e para a geração contínua de emprego e de elevação de renda para uma sociedade. Como afirmava o falecido embaixador Roberto Campos, mestre em iden- tificar incongruências nacionais, “uma coleção de obvie- dades acaba muitas vezes revelando a genialidade. Não sei por que, no Brasil, muita gente insiste em explicar a quadratura do círculo”. O objetivo de uma política que visasse incrementar a competitividade nacional, neste momento, seria em síntese a tarefa de ordenar inúmeras ações micro e macroeconômicas, dispersas e difusas, que podem ou não já estar em curso, seja por intermédio do governo, seja pelos agentes privados, de forma que os esforços e os recursos ali investidos tenham sincronia, siner- gia e maior eficácia. Muitas dessas iniciativas e das ações resultantes têm sido inspiradas na experiên- cia acumulada dos anos de 1970 e 1980 e adaptadas para a atualidade do novo ciclo de crescimento das exportações brasileiras que se deseja estimular. Se não identificarmos com clareza nossas deficiências competitivas e tentarmos obsessivamente corrigi-las, estaremos condenados a um estágio de subdesenvol- vimento em relação a outras nações mais competiti- vas. E quais seriam então as principais desvantagens competitivas da economia brasileira? A lista infeliz- mente é longa, mas em seguida relaciono alguns dos principais fatores de competitividade que precisam ser enfrentados com firmeza: 1. Mão de obra pouco qualificada, devido às deficiên- cias dos setores de educação básica e ensino profissional, além de um deficiente sistema público de saúde. 2. Tecnologia industrial defasada, comuma idademédia de 15 anos dasmáquinas e equipamentos emuso namaio- ria dos setores da indústria brasileira, resultando embaixa produtividade dos fatores de produção e baixa qualidade dos bens produzidos. 3. Custo elevado do capital de investimento e de giro, tornando mais oneroso o custo final dos produtos, espe- cialmente os demaior valor agregado e de ciclomais longo. 4. Custo tributário elevado , especialmente de impostos cumulativos na cadeia produtiva, com incidência no fatu- ramento e de complexa e onerosa gestão tributária. 5. Custos logísticos elevados, devido a uma matriz de transportes predominantemente rodoviária, de baixa qua- lidade e manutenção. 6. Elevado nível de proteção comercial com tarifas de importação superiores à média internacional (TEC Mercosul) — o que resulta emumbaixo nível de integração competitiva às cadeias de valor internacionais. 7. Necessidade de atualização da pauta exportadora brasileira para nela incluir os chamados produtos dinâ- micos, cuja demanda mundial cresce a taxas exponencial- mente superiores às relativas aos produtos tradicionais. Muitos desses produtos têm pouca ou nenhuma presença na atual pauta de nossas exportações e deveriamser objeto de estímulos oficiais para que se verifique uma antecipação de sua inclusão na estrutura exportadora brasileira. Aqui cabe ressaltar os setores demicroeletrônica (semicondutores, circuitos impressos e componentes eletrônicos), biotecnolo- gia, software, medicamentos, cosméticos, serviços técnicos especializados, bens de informática e de telecomunicações. 8. Custo burocrático elevado, principalmente por excesso de regulações e intervenções de órgãos e autarquias esta- tais na atividade econômica privada, desde o registro das empresas até normas trabalhistas, ambientais, regulató- rias e contábeis. Entre 1980 e 1990, ocorreramvários ciclos de hiperinflação, até que em 1994 oPlanoReal veio estabilizar definitivamente a economiabrasileira
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