RESPM-SET_OUT-2015-baixa
setembro/outubrode 2015| RevistadaESPM 79 tra o baixo ganho das matérias-pri- mas desses produtos de países em desenvolvimento. Com o advento da nova política da China, as maté- rias-primas subiram de preço, como as commodities de soja, de ferro etc., mantendo equilíbrio com os produ- tos finais. No entanto, com a crise da subprime nos Estados Unidos, houve retração do crescimento da China, passando de dois dígitos para os atuais 7%. Assim mesmo, a China cresceu em média superior a muitos países, muito mais que o Brasil. A União Europeia se ressentiu da crise, apresentando um quadro de reces- são e desemprego, porque se apoiava empremissas ultrapassadas. Revista da ESPM — A China está re- forçando o mercado interno e passando parte de sua produção de valor agrega- do menor para países commão de obra ainda mais barata. Qual é o impacto global dessa tendência e que riscos ela traz ao Brasil? Castro Neves — Há possibilidades e riscos para o Brasil. Exportar com- modities não é nenhum demérito. O importante é o que se faz com o dinheiro das commodities. Isso é o fundamental. O modelo da China foi exitoso, mas criou uma prosperidade baseada namigração demassas popu- lacionais para as costas do país, com seus grandes centros urbanos. Esses núcleos urbanos absorvem 70% da po- pulação chinesa, quando outrora era o contrário, entre 20% e 30%. Agora, eles estão dando ênfase ao desenvol- vimento do interior, a zona rural mais pobre. Daí que a importação de soja e de outras commodities tornou-se secundária. Para atender às várias partes de seu país, a China precisa importar alimentos já prontos para o consumo. A oportunidade é o Brasil exportar produtos mais processados, não só carne in natura , mas também carne industrializada. Ou seja, a Chi- na está importando produtos de valor agregado. Essa mudança de hábitos exige dos produtores nacionais brasi- leiros incluir-se nos padrões de qua- lidade internacionais. Eles têm certa qualidade, mas é preciso estar atento às peculiaridades locais e à oferta de novos produtos. Para produzir com competitividade, o Brasil precisa cor- tar gargalos, como a perda de 30% da colheita por falta de infraestrutura de transporte e armazenagem. Por- tos mais adequados e aparelhados formam outro item importante para atender a essa grande demanda da China e de outros importadores. Revista da ESPM — Qual é a gravida- de da bolha domercado acionário chinês para a economiamundial? Castro Neves — A bolha atual da Chi- na é bastante parecida com a bolha acionária brasileira nos anos 1970 e 1971, quando muitas vezes se obtinha lucrode30%aomês. Erauma verdadei- ra loucura. Ganhou-seeperdeu-semui- to dinheiro com o furo da bolha em 1971. Papéis que de manhã valiam 10 cruzeiros, à tarde passavam a valer 15 cruzeiros. Havia demanda por papel, estando totalmente desconectados valor e preço. Na China aconteceu um pouco disso. O especulador percebe a dissintonia de seu papel com a rea- lidade, obtendo lucros desligados do real valor. No entanto, o especulador é útil: ele serve de aviso para aquilo que ocorre nas transações econômicas, Em30 anos, os chineses tiveramcrescimento assombroso de 21 vezes, passando a ser a segunda potência econômica domundo shutterstock
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