RESPM-SET_OUT-2015-baixa
entrevista | Luiz Augusto de Castro Neves Revista da ESPM | setembro/outubrode 2015 80 para que se façam as devidas corre- ções ou acomodações. Revista da ESPM — Estão surgindo grandes grupos regionais, como Améri- ca do Norte, União Europeia, Ásia-Pací- fico. Para onde caminham esses blocos? Castro Neves — O rumo que as coisas estão tomando nos leva a concluir que todos eles são globais. O resul- tado da bolsa chinesa repercute em São Paulo, assim como na bolsa da Indonésia, na de Londres, e assim por diante. A formação de grandes blocos, na verdade, é para aumentar seus tentáculos em relação a outros, mas eles não são mais as fortalezas de ou- trora. Há grandes negociações para a formação do bloco América do Norte/ Europa, que representa mais de 50% das cadeias globais de valor. O bloco Transpacífico reúne países asiáticos do Pacífico. O Brasil precisa entrar nessa festa. A América Latina, sem grandes resultados intrablocos, está formando uma aliança de países do Pacífico, como Chile, Peru, Colômbia e México. É uma tentativa não tanto de se fortalecer, mas de se integrar ao mundo globalizado. Revista da ESPM — O senhor também foi embaixador no Paraguai. Como vê o Mercosul? Alguns querem ver o bloco ex- terminado. Outros querem consertá-lo. OMercosul tem salvação? Castro Neves — O Mercosul, do jeito que está, não tem salvação. Seus membros não confiam muito entre si. Pela Resolução 32, todos os mem- bros só poderiam fazer acordos com outros blocos ou países por meio de consulta e consenso comum. Mas tecnicamente não existe esse obstá- culo, isso não faz parte das minutas dos países do bloco. Aliás, o processo de integração interna afasta politi- camente os menos competitivos. As listas de exceção de tarifação são maiores que as de tarifação comum no Mercosul. Os objetivos dos mem- bros do bloco são muito diferentes. O Brasil, por exemplo, quer anexar novas áreas para seus produtos in- dustriais. Argentina, Uruguai e Pa- raguai almejam ter mais acesso ao mercado brasileiro. AArgentina quer proteger a sua indústria. O acordo automobilístico doMercosul há anos é provisório. É preciso fixar um obje- tivo de longo prazo para viabilizar o bloco regional. Escolhido o objetivo, deve-se traçar um acordo em que cada país estabelece sua velocidade de integração. Do contrário, cada um faz o que lhe dá na telha, sem se preocupar com o prejuízo dos outros. Revista da ESPM — O Brasil até o momento não manifestou intenção de partir para negociações mais diretas comoutros países fora doMercosul. Essa decisão é correta? Castro Neves — Deveria haver mais política externa do que diplomacia. O Brasil tem um problema cultural, porque desenvolveu sua indústria em três pilares: proteção, reserva de mercado e crédito subsidiado. Foi criado o BNDE — depois BNDES — para atender ao mercado interno. Assim, o Brasil não se tornou com- Paraproduzir comcompetitividade, oBrasil precisacortar gargalos, comoaperda de30%dacolheitapor faltade infraestruturade transporteearmazenagem shutterstock
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