RESPM-SET_OUT-2015-baixa
setembro/outubrode 2015| RevistadaESPM 81 petitivo internacionalmente e só mais tarde, nos anos 1970, entrou no mercado externo à custa de muito subsídio, provocando conflito com agências e foros internacionais. A política cambial era dirigida em fa- vor dos exportadores nacionais. Eles pediam, por exemplo: “Nós quere- mos quatro cruzeiros por dólar”. Esse direcionamento cambial valorizava as exportações, mas tornava mais caros os insumos vindos do exterior. Revista da ESPM — Tirando as com- modities, que são a fortaleza do Brasil, em que estágio estamos dentro das ca- deias globais de valor? Castro Neves — A presença do Bra- sil ainda é tímida. Entretanto, esta- mos entre os cinco maiores países em território e economias do mun- do. Levando isso em consideração, tem um grande potencial. O desafio está em fazer o dever de casa. O Brasil é excelente em definir os fins, mas péssimo em produzir os meios. Por ora, está muito lento em fazer esse dever de casa. Revista da ESPM — Analisando a visita de Dilma Rousseff ao presidente Barack Obama, podemos esperar um degelo na relação com os Estados Unidos? Aparentemente, há um gesto maior de aproximação política do que econômica. Castro Neves — Deveríamos ter eco- nomia e política mais próximas. O país sempre teve hesitações em de- finir a sua política externa. Durante décadas, não éramos alinhados com ninguém, nem mesmo com os não alinhados. Com os Estados Unidos tínhamos, em décadas passadas, uma relação de indiferença benigna. Mas temos coisas em comum, como a grande mobilidade social. Eles têm as mesmas três vertentes que nós: europeia, indígena e africana. Os dois países têm muito mais mobilidade que os europeus e asiáticos. Uma pes- quisa feita na Universidade Nacional de Brasília (UNB) apontou que mais de 30%dos alunos tinhampais analfa- betos ou semianalfabetos. Isso ocorre de maneira semelhante nos Estados Unidos. Na prática, porém, nós nos relacionamos com a China com a in- tenção de esgarçar nossa relação com os Estados Unidos. Enquanto isso, a China trata os Estados Unidos como o parceiromais importante, apesar de concorrente. Não faz nenhum acordo com países ou pessoas que venham a melindrar o seu relacionamento com os Estados Unidos. Revista da ESPM — Quais as pontes que podem ser erguidas entre Estados Unidos e Brasil, as duas maiores demo- cracias do continente? Castro Neves — Para muitos, o Brasil tem tradição ibérica e, portanto, um cunho mais autoritário. No entanto, o Brasil revela facetas democráticas, como na Operação Lava Jato, julgan- do os poderosos. O país primeiro deve assumir o seu próprio papel. Não apresentar posição ambígua, como quando em 1982 o país tinha delegados no Gatt com duas posições conflitantes: uma dentro do foro A vinda de Angela Merkel ao Brasil é totalmente compreensível: São Paulo é o maior estoque de investimento alemão no mundo latinstock
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