RESPM-SET_OUT-2015-baixa

Revista da ESPM | setembro/outubrode 2015 86 Posicionamento A economia mundial passa por uma impor- tantemudança emsua estrutura, marcada pela transição do comércio internacional para as cadeias globais de valor (CGV). É importante notar que essa mudança não é apenas uma nova forma de organizar o sistema produtivo. Tal movi- mento representa uma novamaneira de conceber a pró- pria economia. Numa leituramais ortodoxa, o desenvolvimento eco- nômico de um país é analisado a partir de seu Produto Interno Bruto (PIB) e de sua capacidade exportadora. Essa leitura ébaseadana ideiadequeo sistemaprodutivo econômico ocorre dentro de ummesmo espaço político, ainda que possa ter inputs internacionais. Essa leitura tambémapresenta limitações significati- vas em relação ao desenho de estratégias governamen- tais e corporativas para a competitividade internacio- nal. Entre seus principais limitadores está a tendência de se focar na produção como algo estanque e depen- dente de esforços específicos e circunscritos à produ- ção propriamente dita. A fragmentação produtiva em termos globais tem alterado, significativamente, essa leitura. Não se trata apenas do aumento no número de fornecedores internacionais, mas sim de uma mudança na forma de como se concebe o processo produtivo, incluindo nisso a produção, a gestão produtiva e as novas for- mas de distribuição. Produção não é produzir. As estatísticas de comér- cio internacional são fortemente focadas no último elo do processo produtivo, que antecede o elo do con- sumo, ou seja, o de transformação. Isso faz com que não seja compreendido como cada fase da produção agregou valor ao produto final. Não se trata, aqui, ape- nas de acompanhar o comércio intrafirma para verifi- car o acréscimo de valor num dado produto. É preciso compreender também que as atividades produtivas apresentam o efeito de transbordamento, como fica claro com a questão das inovações tecnológicas e seu impacto sobre o sistema econômico como um todo. Além da tecnologia, outro fator produtivo que não deve ser analisado da forma clássica é o perfil da mão de obra. A automação produtiva temdiminuído a quan- tidade de mão de obra diretamente relacionada com a produção e aumentado a demanda por profissionais altamente qualificados — que operam em atividades não produtivas, mas fundamentais ao processo eco- nômico, como design, marketing, inovação e gestão. Os sistemas produtivos são complexos e suas redes internas são responsáveis pelo aumento da competi- tividade, quando bem articulados. Não seria exagero encontrar nos clusters ummicrouniverso das hoje cha- madas cadeias globais de valor. A ideia de umconjunto de ações produtivas realizadas por diferentes atores, mas de maneira integrada, mostra bem como existem ganhos de inovação emelhora na qualidade do produto. Foi o incrível barateamento dos custos de logística e comunicação que permitiu a desterritorialização dos clusters . A lógica de atuação continuamuito semelhante a partir da ótica produtiva, mas agora não é preciso se concentrar emummesmo espaço territorial, o que traz novos desafios aos demais atores envolvidos. Produção é integração Atores não empresariais hámuito tempo são relevantes no processo econômico. No entanto, eles têmampliado suaparticipaçãonamedidaemquedesempenhampapéis que alterama lógica da estruturação das CGV. Analisar o seu papel não é uma tarefa fácil, sobretudo porque temos de compreender a inter-relação entre todas elas

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