RESPM-JAN_FEV 2016

ENTREVISTA | MASAAKI IMAI REVISTA DA ESPM | JANEIRO/FEVEREIRODE 2016 10 Revista da ESPM — A metodologia que o senhor desenvolveu é baseada na implantação de uma gestão orientada para a maximização da produtividade e da rentabilidade, sem um aumento significativo nos custos. O que o inspi- rou a criar essa fórmula? Ma saak i Ima i — Em primeiro lugar, eu não sou o inventor da abordagem Kaizen em métodos de produção. Podemos dizer que sou a pessoa que reviu muitas dessas práticas e introduziu o conceito para o público em geral, incenti- vando a sua prática dentro das em- presas. O que fiz foi transformar o Kaizen numa linguagem simples e acessível para todo mundo. O prin- cípio básico é a melhoria operacio- nal, de maneira gradual dentro das organizações. O primeiro passo é a melhoria financeira. Ela é muito importante, porque permite a evo- lução de todos os demais processos da empresa. Sem a parte financei- ra, você não consegue medir o po- tencial de sucesso da companhia. Este é o primeiro passo, mas há outros critérios que podem medir o desempenho da companhia. Eu chamo isso de gestão operacional. Revista da ESPM — Kaizen deriva das palavras “kai” (mudança) e “zen” (contínua). De maneira prática, o que isso implica na gestão das empresas? Imai — Sim, Kaizen deriva de “kai” — mudança — e “zen”, que vem de “bom”, como fazer sempre omelhor. Ele sinte- tiza amaneira como você gerencia seu negócio no dia a dia. É um pensamen- to: nãosecontentar comopresente. Há sempre espaço para melhorias, numa visão muito aplicada a processos e ao lado operacional da empresa. Nesse sentido, há dois fatores-chave, de que falamos no princípio: o controle finan- ceiro e o operacional. Dois exemplos muito associados ao Kaizen são o Toyota Production System (TPM) e o Lean [dois modelos de gestão criados no Japão e bastante difundidos no mundo, essencialmente na indústria]. Mas o fato é que ambos estão concen- trados no fator operacional. Podemos dizer que trazem parte da visão Kai- zen,mas nãoo todo. Revista da ESPM — Kaizen, portan- to, está acima das práticas de gestão mais difundidas no mercado? Imai — Exatamente. Kaizen é uma visão de mundo, uma filosofia apli- cada aos negócios. É nunca estar satisfeito e buscar a excelência de uma maneira permanente. Algo que devemos praticar todos os dias, por todos, dentro da organização. Revista da ESPM — De que forma essa filosofia precisa ser introduzida dentro de uma empresa? Imai — O mais importante é ter em mente que o Kaizen não se trata de uma iniciativa para o CEO ou os di- retores. Ela tem de estar em todos os níveis hierárquicos, passando pelo bo- ard , a gerência, até o “chão de fábrica”. Cada funcionário em cada seção da empresa. Todos podemmelhorar. Revista da ESPM — O senhor também comenta que há uma obsessão da melho- ria de processos por meio da tecnologia, que exige muito investimento e, por isso, nem sempre é adotada pelas empresas. De que forma o Kaizen pode ser aplicado semdepender de grandes recursos? Imai — Kaizen temmuito pouco a ver com tecnologia. Ele está baseado na aplicação do senso comum de qual- quer indivíduo. De que maneira nós conduzimos nosso trabalho no dia a dia? De que forma podemos ser mais produtivos com os mesmos recursos? Isso parte de um conceito, de padro- nização de processos, limpeza do ambiente, organização de materiais e combate ao desperdício. São ativida- des quequalquer umpode fazer na sua própria casa ou em qualquer negócio. É claro que a tecnologia, o uso de fer- ramentas mais modernas e eficientes são importantes e devem ser usadas pelas empresas, mas a essência do Kaizennão está aí. Revista da ESPM — A base do Kaizen está muito relacionada ao papel das pessoas e implica compromisso e au- todisciplina. Esses valores estão muito arraigados na cultura japonesa. Como o senhor vê a aplicação dessa filosofia na cultura ocidental, mais marcada pelo individualismo? Temos mais dificuldade para entender esse modelo? Kaizen é uma visão demundo, uma filosofia aplicada aos negócios. Énunca estar satisfeito e buscar a excelência de umamaneira permanente. Algo que devemos praticar todos os dias

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