RESPM-JAN_FEV 2016

ENTREVISTA | ELBIA SILVA GANNOUM REVISTA DA ESPM | JANEIRO/FEVEREIRODE 2016 32 Revista da ESPM — Seu perfil no Face- book é encabeçado por uma frase: “Que os ventos corram a nosso favor”. Pelo menos no sentido literal da expressão, o Brasil não pode se queixar, certo? Elbia Gannoum — O Brasil, em termos de recursos renováveis para produção de energia, que é o que o mundo busca nos últimos 20 anos, é privilegiado. Tem recursos naturais hídricos, tanto que cerca de 65% da nossa matriz elétrica é hidrelétrica. Tem ventos muito bons. Tem sol. Tem biomassa. Então, é o país mais renovável do mundo na matriz ener- gética. Segundo os fabricantes de equipamentos, o Brasil tem o melhor vento do mundo para produção de energia eólica. Revista da ESPM — Nós estamos sabendo aproveitar esta vantagem, lite- ralmente, natural? Elbia — Estamos, sim. Há uma per- cepção equivocada damaioria de que o Brasil, pelo fato de ter hoje cerca de 6% da sua matriz elétrica em energia eólica, e não 30% ou 50%, estaria atrasado. Não. O Brasil está na hora certa. No passado, a tecnologia de produção eólica era proibitiva em termos de custos. Como o Brasil tem muitos recursos naturais e pode escolher o que quer, pôs em primeiro lugar a exploração de recursos hídri- cos, para a qual tinha know-how e tec- nologia. A partir domomento emque a tecnologia eólica foi se tornando mais competitiva, com custos mais baixos, o Brasil fez investimentos. E na hora certa. Estamos sabendo explorar muito bem. Revista da ESPM — Nos anos de 1990 havia uma percepção do governo, talvez da sociedade, de que a energia eólica era cara e só fazia sentido na Europa por causa dos subsídios. Na vi- rada do século é que parece ter havido uma mudança de percepção. O Brasil não perdeu tempo? Elbia — Não, não perdeu tempo. Outros países, por uma questão de segurança energética, tiveram de fazer esses investimentos mais cedo. Eles queriam substituir o car- vão e não tinham alternativa. Paí- ses desenvolvidos têm aquilo que nós não temos: dinheiro. Por outro lado, no Brasil, até dez anos atrás, 90% da potência instalada vinha de hidrelétricas, e o país ainda tinha uma carteira enorme de usinas a construir. A segurança nacional já estava garantida, a um custo muito baixo na comparação com outras fontes de energia. O país começou a olhar para outras fontes e a pen- sar numa diversificação da matriz quando percebeu que os recursos hidrelétricos estavam se esgotando na medida em que a demanda por energia ia aumentando. Revista da ESPM — De 2012 para 2014, passamos do 15º para o 10º lugar no ranking mundial de capacidade ins- talada para energia eólica. Em quanto tempo estaremos entre os Top Five? Elbia — Esta discussão é complicada. O primeiro lugar é da China. Eles pro- duzem lá 114 GW de eólica. Sabe qual é a capacidade instalada do Brasil? São 160 GW, somando todas as fon- tes. O Brasil nunca vai ter o primeiro lugar. Nem o segundo. Os Estados Unidos têm uma imensa potência instalada. A gente talvez tenha chan- ce de, um dia, alcançar a Alemanha. A energia eólica é hoje 6% da nossa matriz. Numa visão de longo prazo, é possível chegar a 20% ou 25% por volta de 2040 ou 2050. OBrasil teria, talvez, o dobro do que tem hoje: 320 GW. Por- tanto, uns 64 GW de eólica. Então, é muito difícil fazer esta conta. Revista da ESPM — Até porque os outros provavelmente também não vão ficar parados. Elbia — É claro que o Brasil cresce mais em termos de consumo. É um país em desenvolvimento, então a necessidade de aumentar a potência instalada no país é superior à dos Estados Unidos. Mas não é superior à da China. E tema Índia também. Se o Reino Unido ficasse parado, o Brasil já alcançaria, em 2017, a sexta posi- ção. Mas o Reino Unido não vai ficar parado. Nem a França ou o Canadá. O Brasil ficará entre os dez para sem- pre. Quando vai ficar entre os cinco, é difícil dizer. Revista da ESPM — O Brasil já pode ser considerado uma potência do vento? Somos o paísmais renovável domundo na matriz energética. Segundo os fabricantes de equipamentos, o Brasil temomelhor vento para produção de energia eólica

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