RESPM-JAN_FEV 2016

REVISTA DA ESPM | JANEIRO/FEVEREIRODE 2016 46 Revista da ESPM — Um estudo pro- movido pela IDC classificou o Brasil como o 76º país mais inovador do mun- do. Por que algumas nações como a Chi- na e os Estados Unidos têm mais inova- ção, criação e invenção e outras menos? Claudio de Moura Castro — Como a base genética da humanidade é a mesma, podemos imaginar que o Vale do Silício (Estados Unidos) tem amesma proporção de crianças ima- ginativas e inteligentes como o Vale do Jequitinhonha, emMinas Gerais. O que muda é o desabrochar dessa criatividade, que é determinado por circunstâncias eminentemente cul- turais. Inovação é uma curiosidade patológica, que faz com que a pessoa questione por que as coisas funcio- nam de determinada maneira ou ainda se algo não pode ser feito de outra forma. Existe uma diferença fundamental entre o comportamen- to do brasileiro e o do americano: uma coisa é ter curiosidade, outra coisa é não aceitar os fatos como eles são. Há pessoas que, diante de um problema, adotam a solução mais inteligente e razoável. Outras não aceitam determinada situação e acabam inventando moda. São os criativos, os inovadores. É a pessoa que, diante da dificuldade, resolve inventar uma nova maneira de lidar com a situação. Nos Estados Unidos, o cara não acha um táxi na 5ª Aveni- da e cria o Uber ou ainda o Airbnb porque os hotéis estavam cobrando diárias muito elevadas. Revista da ESPM — Mas lá, nos Estados Unidos, eles têm uma cultura que estimula esse tipo de iniciativa... Castro — Pois é... Os Estados Unidos contam com dois fatores determi- nantes: a educação e a cultura — que estimulam e não punem a criati- vidade, desde o tempo de Santos Dumont e dos irmãos Wright. O bra- sileiro era um aristocrata do café, filho de engenheiro e formado na França, que vivia numa cultura aris- tocrática e estava em busca da glória e não do dinheiro. Já os americanos seguiam a máxima protestante de que Deus gosta de quem tem suces- so econômico na vida. Assim, copia- ram a invenção de Santos Dumont, e criaram uma fábrica de aviões. A Suíça possui o maior número de patentes per capita domundo porque a cultura do seu povo valoriza isso. O mesmo não acontece na França nem no Vale do Jequitinhonha, de onde não vão sair grandes invenções, por- que as pessoas não sabem, não têm a base técnica para criar. O conhe- cimento é fundamental para que a inovação ocorra. Bill Gates estudava em Harvard quando criou a Micro- soft. Mark Zuckerberg também era aluno de Harvard quando inventou o Facebook. Revista da ESPM — Em um dos seus artigos o senhor cita o quanto a falta de um bom ensino de ciências nas escolas brasileiras prejudica o desenvolvimen- to do país. Rever essa fórmula seria o Nossasociedadenão valorizaainovação! O economista e professor Claudio de Moura Castro faz uma radiografia precisa da triste realidade vivida pela educação brasileira e mostra por que é tão difícil inovar no país. “A sociedade criativa é aquela que tem um número gigantesco de pessoas tentando fazer algo novo — o que não acontece aqui”. Segundo o especialista — que já foi presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) —, o problema começa já no ensino fundamental. “No Brasil, o princípio do desastre é o ensino básico de ciências — física, química, matemática e biologia —, que é muito ruim. Sem uma reforma, a nossa base de recrutamento está comprometida.” ACADEMI A | CLAUDIO DE MOURA CASTRO

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx