RESPM-JAN_FEV 2016
JANEIRO/FEVEREIRODE 2016| REVISTADAESPM 47 caminho para o surgimento de profissio- nais mais criativos no Brasil? Castro — Sim. Se você não tem co- nhecimento, faz samba! Aqui, o ensino de ciências é pura decoreba. Aprender ciência é entender o mun- do. Se você só decora fórmulas, está fazendo algo que para nada serve. Sem uma reforma na educação, é quase impossível quebrarmos esse ciclo. Do jeito que está a nossa edu- cação, vamos continuar produzindo alguns enclaves que geram um “ban- dinho” de gente com educação mais elevada. Infelizmente, a sociedade brasileira não tem a base técnica nem os valores que reforçam a cria- ção prática, como tinham os irmãos Wright. A curiosidade que pessoas têmaqui não está traduzida para pro- blemas que tenham um certo grau de complexidade, e isso por causa de uma base teórica inconsistente. Não temos ninguém inventando um prego novo no Brasil, porque ninguém pensa em como fazer um prego diferente! Quando eu estava em Genebra, entre 1986 e 1991, todo ano tinha um grupo de 150 chineses levando para a feira de inovação um monte de porcarias que eles inventa- vam por lá e a sociedade valorizava. Por que quase tudo que tem fio ou pilha foi inventado nos Estados Uni- dos? Porque a sociedade desenvolveu essa cultura de criação e invenção. É uma tradição que começa com os indivíduos avançando país adentro para o Oeste e tendo de ser autossu- ficientes em tudo para poder fazer as coisas acontecerem. Ao combinar esse avanço para o Oeste, com a ne- cessidade de autossuficiência e uma boa alfabetização, você gera uma sociedade criativa. Revista da ESPM — Mas de que ma- neira poderíamos introduzir essa cultura na sociedade brasileira? Castro —Éprecisodespertar a curiosi- dade, estimular a insatisfação, o ques- tionamento, fazer com que a pessoa não aceite as coisas do jeito que elas são. Essa iniciativa de seguir adiante e descobrir melhores fórmulas de fazer algo é o que faz toda a diferença. A sociedade criativa é aquela que tem um número gigantesco de pessoas tentando fazer algo novo. No Brasil, o princípio do desastre é o ensino básico de ciências — física, química, matemática e biologia —, que é muito ruim. Semuma reforma nesse ensino, a nossa base de recrutamento está Claudio deMoura Castro, economista e professor universitário: ”O conhecimento é fundamental para que a inovação ocorra” E S P E C I A L I N O VA Ç Ã O
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