RESPM-JAN_FEV 2016

REVISTA DA ESPM | JANEIRO/FEVEREIRODE 2016 48 comprometida. A cura começa por aí. Já o ensino superior brasileiro tem um nível, apresenta boas instalações e a maioria dos professores tem mes- trado e doutorado. O único problema do ensino superior brasileiro é que os alunos nada sabem. Outro problema é que as nossas universidades possuem uma orientaçãomuito acadêmica, que prioriza o falar e não o fazer. OColégio Pitágoras, quando eu estava lá, era associado à Universidade de Phoenix, que tinha o melhor slogan que já vi no mundo universitário: “Você aprende hoje e usa amanhã!”. Aqui, adotar esse tipo de posicionamento hoje no nossomundo acadêmico é umpecado mortal. Você será acusado de ter se vendido aomercado! Revista da ESPM —Umcaminho para reverter esse posicionamento seria a am- pliação das parcerias entre a indústria e a academia. Certo? Castro — Existe uma controvérsia na literatura sobre qual é o papel da uni- versidade na geração de tecnologia e qual é o papel da empresa na geração da ciência. Temmuita gente, incluin- do-se o Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que acredita que o papel da universidade não é pro- duzir tecnologia e sim formar pes- soas para produzir essa tecnologia. E, no dia em que aparece uma boa ideia, esse universitário cria uma startup perto da universidade, que aliás foi o que aconteceu ao lado do ITA [Instituto Tecnológico de Aero- náutica], com a criação da Embraer. Mas minha posição é: nem tanto ao mar nem tanto à terra. Embora o papel da universidade não seja o de produzir tecnologia, eu acho que ela pode produzir, sim, e não há nada de errado com isso. O grande problema clássico da universidade brasileira é que quando aparece o dinheiro para produzir tecnologia ela desenvolve algo que fica na prateleira. É a famo- sa pesquisa aplicada que ninguém aplica. Isso está mudando. Atual- mente, você tem entraves, mas tem financiamento também. Revista da ESPM — O senhor acredita que poderíamos, pelomenos, estimular o interesse pela pesquisa em áreas críticas da economia, por meio de uma reforma profunda do nosso sistema educacional, principalmente na graduação e pós-gra- duação das universidades? Castro — Sim. Mas hoje, se a univer- sidade não tiver uma fundação, não consegue comprar nem um sanduí- che. O modelo de compra dentro do sistema federal é péssimo. Se queimar uma lâmpada na universidade, você precisa fazer uma licitação mundial para comprar uma nova. O excesso de burocracia é apenas um dos grandes problemas do setor. Outro problema, nada pequeno, é o movimento que existe dentro dos sistemas Capes e Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação, que privi- legia o diploma e não a competência profissional. Sabe como você contrata um profissional que tem 20 anos de experiência em obra para ser profes- sor da engenharia civil? Não contrata. O modelo de contratação atual pune quem sabe. Temos um cartório que impede a universidade de recrutar pessoas que sabem fazer em áreas onde quem sabe não tem diploma e quem tem diploma não sabe! Esse é um dos principais entraves para o desenvolvimento da tecnologia nas universidades brasileiras. Revista da ESPM — Por quê? Castro —A legislaçãodiz que você não pode contratar um profissional que não seja doutor. Agora, quantos douto- res sabem fazer uma turbina de avião a jato?Oque ocorre nas universidades é a penalização da experiência e o excesso de valorização do diploma. Minha sugestão é que a Capes separe as áreas profissionais — como enge- Bill GatesestudavanaHarvardquandocriouaMicrosoft.MarkZuckerberg tambémeraalunodaHarvardquando inventouoFacebook ACADEMI A | CLAUDIO DE MOURA CASTRO shutterstock

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