RESPM-JAN_FEV 2016
REVISTA DA ESPM | JANEIRO/FEVEREIRODE 2016 50 Revista da ESPM — A consultoria Kaduna presta serviço para empresas, como Ambev e Rhodia. A partir dessa experiência, como o senhor avalia o momento atual da nossa economia? Roberto Giannetti da Fonseca — As empresas estão perplexas com a inércia e a falta de decisão do governo brasileiro. Essa incerteza não permite ao empresário ver com clareza o ho- rizonte no curto prazo. Mas notamos um movimento silencioso do empre- sariado, que começa a se preparar para voltar a atuar no exterior. Até por- que o Brasil continua sendo um país extremamente atrativo pelo tamanho do seu mercado e sua capacidade competitiva em muitos segmentos. O problema é que hoje a economia depende de uma solução política para andar. Isso é o que nos aflige, porque nós, empresários, não entendemos de política. O empresário é pragmático, entende de logística, distribuição e produção. Quando esse impasse po- lítico for definido, teremos um novo momento para o mercado brasileiro, com a retomada das decisões de natu- reza econômica — como o ajuste fiscal, a agenda de desenvolvimento, as reformas tributária e do Estado. Isso é imperativo para o crescimento econô- mico e para termos um país com um quadro econômico e social estável. Revista da ESPM — Na conjuntura atual, é quase impossível calcular um retorno que justifique novos investi- mentos. Diante desse panorama, como estimular a indústria a voltar a investir? Fonseca — Confiança é a palavra- chave. O brasileiro precisa voltar a ter confiança na política econômica, na relação do Estado com a sociedade civil, com o contribuinte e com o cidadão. Essa confiança foi quebrada por conta das inúmeras violações que ocorreram desde a campanha presidencial, que propôs uma coisa e fez outra, até a atuação equivocada do governo em relação ao ajuste fiscal. Todos sabem que fazer um ajuste fiscal em um país em recessão não funciona. É inócuo, porque a receita tributária cai simultânea e proporcio- nalmente à despesa. É um sacrifício em vão. Com os meus clientes, costu- mo usar a seguinte frase: “Umperíodo de recessão é o intervalo entre dois momentos de crescimento econômi- co”, porque o crescimento sempre vol- ta. Logo, sou absolutamente otimista emrelação à economia brasileira. Revista da ESPM — O problema é que junto com um “intervalo de cresci- mento” vivemos o enclausuramento da economia brasileira em relação ao ex- terior, o que dificulta a criação de uma consciência exportadora na indústria. Fonseca — Os erros econômicos que estão causando a recessão já vêm de algum tempo. O cenário atual come- çou a ser montado a partir da crise de 2008/2009, com a subavaliação de seus efeitos tanto no Brasil quanto no mundo. Houve uma aceitação da so- brevalorização cambial, que corroeu a competitividade da indústria brasilei- ra. Asobrevalorizaçãocambial causou umdano irreparável à saúde da indús- AsaídaparaoBrasil estánoexterior! Do lado do empresariado, o consultor Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da consultoria Kaduna, afirma que a sobrevalorização cambial causou um dano irreparável à saúde da indústria brasileira. “Perdemos quase uma década de integração internacional com as cadeias de valor”, lamenta o economista e ex-diretor da área internacional da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Agora, se quisermos acabar com essa doença, precisamos nos apressar, sair do comodismo e exigir que o ambiente competitivo predomine em nossa economia. Só assim o Brasil voltará a percorrer o caminho da inovação e do crescimento!” MERCADO | ROBERTO GI ANNET T I DA FONSECA
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